Democracia em pauta: concentração dos meios e poder da informação jornalística

Por Laura Mariano, Vitor Rodrigues e Yasmin Mello

O jornalismo exerce um papel crucial na democracia ao informar o público, promover a transparência e fiscalizar os poderes instituídos. No entanto, o poder da informação jornalística vem acompanhado de responsabilidade ética em contextos onde a concentração dos meios de comunicação pode comprometer a pluralidade de vozes e a diversidade de opiniões.

O Brasil possui os piores índices de pluralidade na mídia entre 12 países em desenvolvimento avaliados pelo Monitor de Propriedade de Mídia. Essa análise é uma iniciativa dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), coordenada pelo Intervozes, organização da sociedade civil que defende o direito à comunicação.

Na televisão, mídia mais consumida pelos brasileiros, a Globo, SBT, Record e Band concentram 71,1% da audiência nacional. A mídia impressa também apresenta alto risco para a diversidade de opiniões: 50% da audiência concentrada nos quatro principais grupos, entre eles Globo, Folha, RBS e Sada.

O fenômeno tem nome: coronelismo midiático. Um dos exemplos é o Grupo Globo, que detém grande parte da mídia impressa, televisiva e radialista. Gráfico: MOM/RSF/INTERVOZES.

Segundo Pablo Figueiredo, coordenador nacional de Relações Internacionais do partido Rede Sustentabilidade, é indispensável uma melhor regulamentação para democratizar o acesso dos políticos aos meios de comunicação.

Veículos influentes estão sob domínio de grandes nomes da política, causando uma exposição dos leitores à uma possível manipulação de informações. A era da web facilita o acesso a diferentes pontos de vista e tratamento de notícias, mas, em contrapartida, foi aberta a margem para as famosas fake news.

Comunicação e política

Momentos históricos do país têm relação direta com os veículos de comunicação: no período da Ditadura Milita, a imprensa sofria retaliações e apoio de governantes militares, em especial, por conta de episódios de censura e manipulação de enfoque. Um dos mais polêmicos se trata do o debate ao vivo organizado por um pool de emissoras ocorreu entre o candidato do PT, Lula, e o candidato do PRN, Fernando Collor de Mello. O Partido dos Trabalhadores acusou a Globo de privilegiar o candidato do PRN, apontando que a edição colocado no Jornal Nacional contou com os melhores momentos de Collor no debate e os piores de Lula. Além disso, Collor teve ainda mais tempo de tela do que o adversário.

A Rede Globo fez um mea-culpa pela edição do debate entre Lula e Fernando Collor, 26 anos depois. Confira a reportagem na íntegra.

Existem leis que permitem a política e o jornalismo andarem lado a lado, mas sem interferência direta. Matheus Ephina, advogado eleitoral, partidário e administrativo explica: “Segundo o Art. 54 da Constituição Federal, os deputados e senadores não podem firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, bem como são proibidos de serem proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada”.

Pedro Mamede, coordenador de Comunicação do gabinete da deputada estadual Ana Paula Siqueira e coordenador de Comunicação da Executiva Municipal do partido Rede Sustentabilidade, conta que comunicação e política estão sempre muito relacionadas, uma vez que a política é a arte do diálogo. “Hoje, com o uso da internet, a proliferação é muito mais alta, assim como a facilitação da propagação de notícias falsas, polarização e radicalização”, afirma o comunicador que também comenta sobre as formação de bolhas de opinião nas redes que dificultam ainda mais o debate público, principalmente nesse momento de radicalização vivido no país.

Enfrenta-se no Brasil um desencanto que leva muitos cidadãos a se desinteressarem por política, o fenômeno é chamado de analfabetismo político: cidadãos se abstêm de votar, votam branco ou nulo, ou sequer sabem sobre o que estão votando. O resultado é a representatividade falha e governos eleitos com uma base de apoio limitada. “As pessoas têm muito descrédito com política. Há também um certo desconhecimento do público do papel de cada um, às vezes cobra asfaltamento de rua para deputado estadual sendo que uma competência de vereador”, finaliza Mamede.

Pedro Mamede atua como coordenador de Comunicação: transparência e autenticidade com assessorado na área da política. Foto: Acervo pessoal.

Ética jornalística

A concentração dos meios de comunicação no Brasil e sua ligação direta com a política é uma discussão que precede a era digital. Desde os anos 90 essa temática é abordada nos cursos de comunicação e o cenário atualmente vem passando por mudanças. Para a pesquisadora social e gestora de projetos com a comunidade, Viviane Loyola, além de seguir o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o profissional em questão sempre tem que estar atento à credibilidade da fonte e certificar que a linguagem do texto esteja correta e de fácil entendimento.

“Além das questões gerais e atemporais do ponto de vista ético, têm as questões da contemporaneidade. Como a necessidade da checagem e ‘rechecagem’ de dados, porque o volume de desinformação produzida é muito grande. Outra questão que eu considero ética é o compromisso com a qualidade do texto”, afirma Loyola. 

Viviane Loyola, pesquisadora social e gestora de projetos com a comunidade.
Foto: Acervo pessoal

Viviane acentua que o trabalho de apuração precisa ser feito com critério e ouvindo todos os lados, para que haja esclarecimento do tema e conscientização da população, assim contribuindo com a educação e a cidadania.

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