BH e o voto útil: polarização marca comportamento do eleitor
Por Isabel Lopes Reis
As eleições de 2024 em Belo Horizonte refletem um fenômeno comum em democracias polarizadas: o voto útil. Com Fuad Noman (PSD) e Bruno Engler (PL) liderando a corrida eleitoral, muitos eleitores adotaram essa estratégia, votando no candidato com maior chance de vitória para evitar a fragmentação no segundo turno.
Dados das pesquisas Quaest e Datafolha mostram que o comportamento eleitoral em BH é fortemente influenciado por essa movimentação estratégica, marcada pela polarização e desgaste de adversários em uma campanha de tom acirrado.
A polarização entre candidatos com visões políticas antagônicas, presente em eleições anteriores no Brasil, impulsiona o voto útil. Em Belo Horizonte, enquanto Fuad Noman mirou em atrair eleitores de Duda Salabert e Rogério Correia, Bruno Engler enfrentou maior resistência entre eleitores de centro, devido ao seu perfil conservador.
O fenômeno do voto útil em BH levanta questionamentos sobre o futuro da representatividade política, não só na capital mineira, mas em outras regiões. A prática exige reflexão sobre os limites e benefícios das alianças centradas na rejeição de extremos, promovendo um debate sobre o papel das redes sociais e da educação política na formação de uma democracia mais sólida e participativa.
Pragmatismo ou ameaça à pluralidade?
O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, em entrevista à Agência Câmara, explica que as pesquisas eleitorais orientam eleitores a escolher candidatos com maior viabilidade de vencer, seja para evitar a vitória de adversários com alta rejeição, ou para apoiar o “cavalo vencedor”. Monteiro rejeita o estereótipo de que os brasileiros votam apenas no mais popular, afirmando que 95% dos eleitores mantêm suas escolhas iniciais, mesmo em cenários de pressão pelo voto útil.
Para o designer Philippe Albuquerque, que atua em campanhas eleitorais desde 2016 e defendeu o voto útil no candidato Fuad Noman como uma alternativa menos extrema, essa prática é uma reação temporária ao crescimento de discursos extremistas. Ele destaca que alianças amplas para isolar candidatos de perfil radical são comuns em democracias, mas alerta que essa estratégia pode limitar a diversidade política ao restringir as opções do eleitor. Segundo Albuquerque, o voto útil é uma solução de curto prazo para proteger o sistema democrático, mas não substitui a importância de uma base política sólida.
Abstenção
Já o cientista político e assessor legislativo Lucas Chelala considera o voto útil uma solução emergencial, o “último recurso” usado quando não há alternativas viáveis. Chelala argumenta que uma oposição ao extremismo precisa de trabalho de base, organização política e fidelização dos eleitores, além de uma educação política estruturada — elementos que, segundo ele, muitos partidos evitam implementar.
Chelala chama atenção para o alto índice de abstenção nas últimas eleições, superando até mesmo o número de votos do segundo colocado, o que reflete a frustração dos eleitores que não se viram representados nas opções disponíveis. Esse cenário, para ele, aponta uma carência de envolvimento dos partidos com o eleitorado e reforça a necessidade de repensar como o sistema político pode se tornar mais inclusivo e representativo.
Na entrevista a seguir, ele destaca a necessidade de regulamentação das redes sociais que interferem cada vez mais no processo de disputa eleitoral e representação política.