Ocupação Maria do Arraial garante direito à moradia no centro de BH

Por Gabriela de Castro

Foto: Gabriela de Castro

Por meio da posse de um prédio comercial abandonado na Rua da Bahia, no centro da capital mineira, a Ocupação Maria do Arraial tem como principal objetivo garantir à população despossuída o direito à moradia. Ocupar o espaço e transforma-lo em habitação coletiva é uma iniciativa dos integrantes e militantes da Unidade Popular (UP) e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

De acordo com Ana Luiza Moura, que reside em Maria do Arraial, o processo foi gradual: “Viemos de um núcleo de base, participamos de reuniões. Não foi apenas juntar todo mundo para entrar, não”. Poliana de Souza, coordenadora nacional do MLB, ressalta a importância desse procedimento: “O MLB tem inclusive comissões que estudam imóveis abandonados, que não cumprem função social e que geram ônus para a cidade por causa de dívidas. Um prédio como esse abandonado é um custo enorme para o município”.

O nome da ocupação é uma homenagem a Maria do Arraial, que habitava uma casa localizada onde é atualmente o Palácio da Liberdade, destruída sem aviso prévio durante a transição do Arraial Curral Del Rey para Belo Horizonte — capital que foi planejada. Diante da situação, Maria teria rogado uma maldição sobre os futuros governadores. “Há muito tempo ela morava aqui, então os governantes a expulsaram para construir a cidade. A gente usou esse nome justamente no sentido de retomada da Maria do Arraial. Quer dizer que ela ainda está aqui para assombrar esses governantes”, explica Ana Moura.

O edifício, originalmente comercial, tem sido adaptado de acordo com as possibilidades e necessidades dos moradores. “O prédio é comercial, então, tudo é uma fase de adaptação, até mesmo porque são várias pessoas e pensamentos diferentes”, explica Ana Moura. Durante os meses que se passaram desde a ocupação, em julho, os habitantes conseguiram construir espaços como sala coletiva (onde fica a televisão e são realizados os encontros entre as pessoas), assembleia (onde acontecem as reuniões), cozinha comunitária e creche. “A ocupação é a última forma de luta. Primeiro as famílias tentam os programas habitacionais, e muitas vezes não conseguem”, relata Poliana de Souza.

Quanto à relação com a prefeitura, o processo é de negociação. “O presidente do Senac trouxe uma proposta insana de 1.000 cestas básicas e auxílio aluguel de três meses. E depois de três meses? Fazer o que? Voltar pra rua?”, questiona Ana Moura. Entretanto, a ocupação encontrou como aliados outros movimentos sociais e partidos políticos. “A luta nessa proporção tem uma rede de apoio gigante, então, outros movimentos vieram apoiar e ocuparam com a gente na madrugada. Temos apoio do campo da esquerda, inclusive entre os parlamentares. São solidários à nossa luta”, explica a coordenadora.

Ela ainda desmistifica a relação construída no imaginário de uma parcela da população sobre a ocupação e sua relação com o vandalismo, e como a localização garante aos habitantes uma melhor qualidade de vida. “Dizem que ocupação é coisa de vagabundo. Se você andar aqui no prédio, não vai encontrar ninguém. As pessoas saem daqui 7h da manhã. E por que? Porque estão no centro. Se morassem na periferia, saíram muito mais cedo. Elas vão a pé para o trabalho, conseguem chegar mais cedo, conversar entre si, organizar a luta coletiva e brincar com os filhos. Sem contar que é perto das melhores escolas e do lado da área hospitalar de Belo Horizonte. Morar no centro traz milhares de direitos normalmente negados ao povo, como o lazer, a cultura, o esporte e a educação”.

A ocupação pode ser auxiliada através de trabalho voluntário e de doações (PIX: [email protected])