Ações dos governos Lula e Bolsonaro nos 100 primeiros dias diferem políticas

Por Melissa Miranda, Maria Victória e Lívia Lavorato

Os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro são marcos significativos na história política do Brasil, que despertaram intensas discussões e polarização na sociedade. Com a posse de Lula em 2023, após um período de afastamento do poder executivo, o país testemunhou o retorno de uma figura carismática e com histórico de políticas voltadas para a redução das desigualdades sociais.

Segundo o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), 37% dos entrevistados consideram o governo como ótimo ou bom. Por outro lado, o mandato de Bolsonaro, que chegou ao fim em 2022, foi caracterizado por uma abordagem mais conservadora, promovendo reformas estruturais e impulsionando uma agenda de liberalização econômica, sendo considerado bom ou ótimo para 32% do público, nos primeiros 100 dias, de acordo com o Datafolha.

Analisar o período inicial dos dois governos permite compreender diferentes abordagens políticas e suas implicações para o presente e futuro do Brasil.

Gráficos comparativos (Fonte: Reprodução/Melissa Miranda)


Lula

Ambos os governos tiveram ações consideráveis em diversas áreas. Nos primeiros 100 dias de governo de Lula, houve um esforço para combater a fome e a pobreza no país, ampliando o programa Bolsa Família e reajustando os repasses do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Na área da saúde, foram implementados programas de redução das filas de cirurgias e consultas, além das campanhas de vacinação e do Programa Mais Médicos que visa ampliar o número de profissionais no país, de 13 mil para 28 mil.

No setor de habitação, o governo retomou o programa Minha Casa, Minha Vida e estabeleceu metas ambiciosas. Em infraestrutura, foram retomadas obras paralisadas e anunciados investimentos expressivos. Na educação, houve reajustes nas bolsas de estudo e no piso salarial dos professores, além do diálogo com as instituições de ensino, anunciando o repasse de R$4 bilhões para investimentos voltados para educação.

Na política externa, Lula buscou fortalecer parcerias comerciais e ambientais, reafirmando o compromisso com o Mercosul e aprofundando o diálogo com outras nações. Além disso, retomou-se o Fundo Amazônia, paralisado pelo governo anterior, visando à redução do desmatamento e degradação ambiental.

Esse esforço conta com doações internacionais que contribuem para a implementação de ações que reduzem as emissões provenientes dessa degradação. A proposta também prevê destinar 20% dos recursos para apoiar o desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do desmatamento em outros biomas brasileiros e em outros países tropicais.

Bolsonaro

Já o governo de Bolsonaro apresentou propostas de reformas estruturais, como a da Previdência Social e a tributária, com o objetivo de impulsionar a economia e atrair investimentos. Porém, enfrentou desafios na implementação de suas agendas devido a questões políticas e à polarização da sociedade. Na área da saúde, o governo enfrentou críticas em relação à coordenação nacional das ações de combate à pandemia de Covid-19, apesar das medidas adotadas para aquisição e distribuição de vacinas, quando o ministro Luiz Henrique Mandetta divergia do posicionamento do ex-presidente que desacreditava da eficácia da vacina contra a doença.

No setor da habitação, não foram apresentados avanços significativos nos primeiros 100 dias de governo em relação à privatização de empresas estatais. Na educação, por meio Sindicato Nacional dos docentes dos Institutos Superiores (Andes), o governo havia divulgado o contingenciamento de R$29,582 bilhões do orçamento para 2019, noticiados através do Diário Oficial da União, gerando o resultado de cortes de gastos de 25% de investimentos nas universidades e institutos públicos, cerca de R$5,839 bilhões bloqueados.

Na área ambiental, a política de flexibilização das regras de fiscalização e licenciamento ambiental, com redução do orçamento em 95%, destinado à área e abertura de áreas de preservação para atividades econômicas, geraram polêmicas e preocupações, com a perda de R$11,2 milhões. No que diz respeito aos direitos humanos, o governo enfrentou críticas em relação a medidas consideradas prejudiciais nesse aspecto.

Direitos humanos

As opiniões do historiador e advogado Gilberto Silva destaca as diferenças comportamentais e de prioridades dos dois governos. Segundo ele, Lula deu mais visibilidade e promoveu ações para minimizar questões que envolvem os direitos humanos, enquanto Bolsonaro não priorizou esse aspecto. Silva ressalta a importância de ter um líder aberto ao diálogo entre os grupos sociais e enfatiza a influência desse diálogo na sincronia dos poderes e relações com países parceiros.

O jornalista, economista e professor de jornalismo econômico, João Carlos Firpe Pena, analisa que o governo de Bolsonaro começou com uma ideologia neoliberal, mas acabou sendo influenciado pelo “Centrão” e adotou uma abordagem intervencionista.

João Carlos Firpe Pena (Reprodução/Arquivo pessoal)

Relações internacionais

A presença do Brasil no cenário internacional tem se refletido na desvalorização de moedas estrangeiras. Desde o início do atual mandato, observou-se uma queda de 11,6%. Na última sexta-feira (23/06), o valor do Real encerrou em R$4,77 em relação ao dólar. De acordo com especialistas da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), a tendência é de uma desvalorização ainda maior, podendo chegar a um intervalo entre R$4,40 e R$4,50.

Pena argumenta que o governo de Lula teve uma base de estado de bem-estar social, mas também flertou com o centro político. Ele ressalta a diferença na política externa adotada, com Bolsonaro não conseguindo colocar o Brasil em destaque e Lula buscando posicionar o país novamente no cenário internacional.