Alessandra Mello: “Quanto mais plural a mídia, mais próxima da população e reflete a realidade”

Por Amanda Serrano e Lívia Lavorato

Crédito: Acervo Pessoal

A concentração midiática é um problema grave para a realização do direito humano à comunicação e que coloca em risco a democracia. Apesar da Constituição Federal, no artigo 220, determinar que “a mídia não pode, direta ou indiretamente, estar sujeita a monopólio ou oligopólios”, no Brasil, a mídia possui alta concentração de audiência e de propriedade. Isso acontece devido a interesses econômicos, políticos e religiosos.

Nesta entrevista ao Conecta, a jornalista e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais – Sindjor (2017 – 2023), Alessandra Mello, fala sobre o assunto e como essa concentração poderia ser controlada.

Conecta: É de conhecimento público que os conglomerados da mídia são formados por cinco famílias dominantes do Grupo Globo, Bandeirantes, Família do Edir Macedo com o Grupo Record, Grupo RBS e Folha. De que forma você acredita que isso causa impacto na comunicação Brasil?

Alessandra Mello: Isso é um uma coisa terrível para a comunicação brasileira! Esse esse oligopólio. Porque ele torna a mídia pouco plural, né? Você tem cinco empresas que dominam a comunicação do Oiapoque ao Chuí. Essas empresas não têm como negócio exclusivo a comunicação, tem por trás algum tipo de interesse econômico. E muitas vezes manipulam a informação de acordo com os seus interesses. Quanto mais plural a mídia, menos concentrada, mais diversificada, ela é próxima da população e mais reflete a realidade do país. Então, quando a gente vê a Globo falar “o agro é pop”, é porque a Globo tem como um dos seus negócios o agronegócio. Ela usa um dos seus canais de comunicação para propagar o negócio dela. Então, isso é terrível! É uma coisa que teria que muito que ser regulamentado no Brasil, mas infelizmente o Congresso Nacional é omisso e segue silencioso há muitos anos em relação a esse tema.

“A gente tem no Brasil um grande deserto de notícias. A comunicação é um direito fundamental. Ela é importante para denunciar o que está errado, pra por o dedo na ferida, para dar voz à população”

Conecta: Há o mesmo controle entre os pequenos grupos de empresários da comunicação?

AM: Na verdade, eu acho que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem essa propriedade cruzada dos meios de comunicação e esse controle tão grande da comunicação. Isso é muito ruim. Os pequenos empresários da comunicação talvez sejam o que fazem, conseguem fazer – talvez a diversidade aí nas empresas, nos municípios menores, nas cidades pequenas. A gente tem no Brasil, também, um grande deserto de notícias. Muitas regiões, cidades, municípios pequenos que não têm a sua própria mídia. A comunicação é um direito fundamental. Ela é importante para denunciar o que está errado, pra por o dedo na ferida, para dar voz à população e você chega em pequenas cidades que não têm, às vezes, um jornal impresso, uma rádio. Muitas vezes nos estados limites, nos municípios limites chega, por exemplo, uma comunicação de um outro estado. Como um jogo de futebol de um time, de outro, isso é muito ruim.

“O Congresso Nacional é formado por representantes de conglomerados de mídia, donos de meios de comunicação que não têm interesse em discutir essa pauta fundamental, porque informação é poder”


Conecta: De que maneira isso poderia ser controlado? Com os avanços da sociedade, há alguma possibilidade?

AM: Muito fácil de ser resolvido! Bastaria você ter, por exemplo, uma ação mais efetiva do Congresso Nacional. A Constituição de 1988 proibiu a propriedade cruzada dos meios de comunicação que favorece esses grandes conglomerados de mídia, mas nunca houve regulamentação desse artigo. Então, se o Congresso quisesse, poderia tranquilamente regulamentar isso, proibindo a propriedade cruzada, para estabelecermos as regras e não termos essa mídia tão concentrada. Mas, infelizmente, o Congresso Nacional é formado, também, por representantes de conglomerados de mídia, donos de meios de comunicação, de rádio, televisão, de jornais que não têm interesse em sentar e discutir essa pauta que, pra mim, é tão importante como a pauta da Reforma Trabalhista ou da Reforma Previdenciária. Essa é uma pauta fundamental, porque informação é poder.

Conecta: Qual orientação você daria a quem consome informações de apenas um veículo midiático?

AM: Nossa orientação é para que as pessoas não consumam uma informação de um veículo só. Não faça isso! Tenha um olhar crítico para a imprensa, para os meios de comunicação. Pegue uma notícia e olhe o viés que ela está sendo dada num veículo, no outro. Fortaleça a mídia independente, a mídia alternativa – curta, comente, leia, clique, compartilhe, divulgue nas redes sociais. Uma ação mínima que a gente pode fazer como cidadão para furar esse monopólio.