Murilo Rocha: “A imprensa precisa investir no que é jornalismo”
Por Larissa Figueiredo
A corrida eleitoral de 2022 está sendo marcada por forte polarização política, existe uma dicotomia partidária instaurada no eleitorado brasileiro, inflamada pela comunicação na internet, notícias falsas e ataques frequentes à imprensa nas redes sociais. Diante desse cenário, a cobertura jornalística para a editoria de política se tornou mais complexa, frente ao desafio de lidar com uma população inflamada, em meio à difusão instantânea de informação.
O cenário político atual foi discutido nesta terça-feira (17), durante a Semana Acadêmica dos cursos de Comunicação Social da Universidade Fumec, quando os jornalistas Murilo Rocha e Túlio Amâncio (Grupo Bandeirantes) e Edilene Lopes (Rádio Itatiaia) abordaram as eleições, cobertura política, fake news e polarização. O debate foi mediado pela professora da Fumec, jornalista Elisangela Colodeti.
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Murilo Rocha é diretor de jornalismo no Grupo Bandeirantes de Comunicação. Trabalhou em veículos como o jornal O Tempo e Super Notícia. Rocha também é autor do livro “Brumadinho: a engenharia de um crime” e vencedor da 34ª edição do prêmio Vladmir Herzog na categoria jornal, com a reportagem “Quando a ditadura entrou em campo”.
Em entrevista ao Conecta, declarou que a imprensa precisa estar atenta ao seu papel: “Ela não pode ser usada como palanque para ideias antidemocráticas”, enfatizou o jornalista. Leia a entrevista a seguir.
Conecta: Como a internet colaborou com a expansão de grupos neofascistas e propagação de ideais de extrema direita no Brasil?
Murilo Rocha: A internet é um campo livre que tem poucas regulações e muitas camadas, a Deep Web, por exemplo, é uma camada profunda. A pedofilia é um conteúdo que não devia circular, mas circula, como os conteúdos neonazistas, neofascistas, nesse mesmo espaço. Até mesmo esses grupos fechados de WhatsApp, Telegram, são mais difíceis de mapear que a própria internet. Esse poder de viralização é uma característica da internet.
Conecta: Existe uma banalização da política nos tempos atuais, a política está envolta em uma dicotomia entre bem e mal, como uma briga de torcidas. Como a imprensa pode fortalecer o interesse do eleitorado na política “de verdade”?
Murilo Rocha: A imprensa está dentro desse jogo, ela não é algo à parte, os veículos de comunicação são privados, têm donos. Dentro desse jogo, a imprensa precisa investir no que é jornalismo, na boa apuração, boa reportagem, desmentindo as informações falsas. Essa é uma forma de valorizar a política. A imprensa também deve ter alguns cuidados, a eleição de 2018 nos mostrou isso, ela não pode ser usada como palanque para ideias antidemocráticas, essa questão de dar voz a todo mundo, a qualquer discurso. Não estou falando em censurar ninguém, mas a imprensa tem que estar sempre atenta e fazer valer o papel dela.
Conecta: O eleitorado atual para o de dez anos atrás é muito diferente em relação ao engajamento político. Quais são as principais diferenças?
Murilo Rocha: Por incrível que pareça, estamos mais engajados politicamente, mas se esse engajamento é correto ou não, eu já não sei qualificar. Até por causa do fenômeno digital e a polarização política, isso mexeu muito com a gente. Em 2018 surgiu essa entidade que foi batizada como “a tia do WhatsApp”, e são as pessoas participando da política, elas estão debatendo, comentando. O desafio agora é engajar o público mais jovem. A gente viu uma campanha intensa do TSE para que os jovens tirem o título de eleitor. É uma tentativa de renovação e de tentar trazer essas pessoas para a política.