Projeto Melânico celebra diversidade da cultura negra
Por Isabella Ferreira
O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado no dia 20 de novembro. Em 2024, pela primeira vez a data que marca a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares é feriado nacional e traz uma reflexão sobre a luta incansável das pessoas negras contra o racismo e a discriminação, ressaltando também a influência africana na cultura brasileira.
Na Fumec, a partir desta segunda-feira, 18, o Projeto Melânico convida a comunidade acadêmica a refletir e celebrar a história, arte e identidade negra. Ao longo da semana, atividades culturais, oficinas, mostra de curtas e debates importantes vão destacar o compromisso da Fumec com a inclusão e a diversidade.
Zumbi dos Palmares atuou na luta pela resistência e liberdade do povo negro no período colonial. No Brasil, a data era comemorada desde 2011, contudo, foi apenas em dezembro de 2023 que o presidente Lula sancionou o projeto do senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) para que este dia se tornasse, de fato, um feriado, que deu origem a Lei n° 14.759/2023.
Projeto Melânico
A maioria da população brasileira é formada por pessoas negras: 56%, segundo dados atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a auto declaração é apenas um passo em direção à Consciência Negra. É preciso muito mais, principalmente no Brasil, um país em que o racismo está enraizado.
É importante ressaltar que a luta contra o racismo não é uma responsabilidade exclusiva das pessoas negras, e sim de toda a sociedade. A Consciência Negra reforça a importância da solidariedade e da união antirracista. Nesse contexto, a iniciativa do Projeto Melânico tem como objetivo principal reafirmar o compromisso com a luta contra o racismo, fortalecendo a conscientização e o engajamento da comunidade acadêmica e da sociedade em geral para as questões raciais.
A professora dos cursos de Engenharia e Arquitetura e coordenadora do projeto, Renata Silvino, relata que a ideia de criar o projeto sempre esteve presente, mas foi com o amadurecimento pessoal e uma busca constante por letramento racial que ele ganhou forma. “A concretização do projeto veio especialmente com o crescente número de alunos negros na instituição e com a minha percepção de que, mais do que nunca, havia a necessidade de criar um espaço de apoio e reflexão sobre nossas realidades.”
O evento foi inserido no calendário acadêmico, graças ao apoio fundamental da Extensão, representada pelas professoras Adriana Borges, coordenadora geral da Universidade e da unidade FEA; Andrea de Campos Vasconcellos, coordenadora da FCH; e Edilamar Pereira Amaral Esteves, coordenadora da FACE. O apoio institucional garante a continuidade e o fortalecimento do evento, ampliando seu impacto na comunidade universitária e garantindo sua relevância nas próximas edições.
A professora afirma que o projeto foi inspirado pelo legado de Conceição Evaristo, escritora e poetisa nascida na antiga favela ‘Pindura Saia’, localizada nos arredores da Universidade. A comunidade foi extinta pelo processo de gentrificação, que resultou na remoção de seus moradores.
Conceição, é membro da Academia Mineira de Letras e simboliza seu vínculo com o lugar, ao mencionar que seu umbigo e os de seus irmãos foram enterrados na Rua Albita, é conhecida por obras que retratam a experiência da mulher negra e a resistência cultural,. “Imaginem o quanto é significativo para a comunidade acadêmica conhecer essa história. É um conhecimento enriquecedor, que nos conecta com nossas raízes e com as lutas que moldaram a sociedade que vivemos hoje”, destaca a coordenadora do projeto.
Os alunos de diversos cursos da Universidade Fumec também estão envolvidos no desenvolvimento dos eventos. Eles são o principal apoio nas atividades, comprometem-se, opinam e ajudam a direcionar as ações. Renata acredita que é muito importante a formação de um grupo de discussão, troca e apoio contínuo dentro da Universidade, o que fortalece ainda mais a rede de colaboração.
A professora espera que o projeto tenha um impacto significativo tanto para a comunidade acadêmica quanto para a sociedade em geral. Embora a temática abordada já tenha sido discutida em algumas unidades da Universidade, nunca foi tratada de maneira tão abrangente, reunindo toda a comunidade acadêmica em torno de uma reflexão sobre questões de cultura negra, diversidade e antirracismo. As três unidades da Universidade que contribuíram para a construção do projeto garantem uma visibilidade inédita.
“Acredito que o evento pode contribuir para um ambiente mais inclusivo e consciente. Para a sociedade em geral, o impacto também será importante, pois além de sensibilizar e educar, o evento contribui para a valorização da cultura afro-brasileira e reforça a necessidade de práticas antirracistas no cotidiano. Esperamos que essa visibilidade amplificada gere discussões mais profundas e construa um legado de mudança tanto dentro da universidade quanto fora dela”, ressalta a professora.
Celebrando a cultura afro-brasileira
A programação do dia 18 inclui a apresentação do curta ‘Impermeável Pavio Curto’ (2018), com a presença do diretor Higor Gomes e os produtores Cristiano Soares, Daniel Lugão, Gabriel Afonso e Luiz Gustavo Guimarães. A sessão será realizada no período da manhã e da noite, no Auditório FEA. Durante o intervalo noturno, no espaço de convivência, Danças Africanas e Urbanas e DJs se apresentam, ao som de músicas de origem negra, lideradas por Rian Filipi e equipe.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA
A programação foi construída de forma colaborativa e intuitiva por todos os participantes do projeto. A acessibilidade, um aspecto fundamental da diversidade e da representatividade, foi planejada para a mesa redonda, que propõe um debate aprofundado e reflexivo. Para garantir a inclusão, terá intérprete de Libras e os participantes foram orientados a realizar uma breve descrição de sua aparência física, facilitando a interação e a identificação para pessoas com deficiência visual.
Com a realização de ações de visibilidade, conscientização e inclusão, a Universidade Fumec reforça seu compromisso com a diversidade e a justiça social, preparando os alunos para serem agentes de transformação em uma sociedade mais igualitária.
Ao abraçar o dia da Consciência Negra não apenas como um evento anual, mas como um compromisso diário, é possível criar um país onde a justiça, a igualdade e o respeito são acessíveis a todos, independentemente de sua origem étnica. Renata ressalta que “é fundamental manter a questão racial presente na Universidade, pois só assim conseguimos internalizá-la e transformá-la em parte da cultura acadêmica”.
A coordenadora do projeto pretende expandir o projeto, incluindo a criação do Grupo Melânico, composto principalmente por alunos, mas também funcionários e professores que participaram da construção do evento e por aqueles que se unirem ao grupo após conhecerem a proposta. O grupo será uma oportunidade para aprofundar as discussões sobre questões raciais de maneira mais próxima e contínua, promovendo trocas de experiências, estudos voltados para o letramento racial e a participação de egressos e profissionais negros, que poderão contribuir com suas vivências e saberes. O Grupo Melânico será lançado na quinta-feira, último dia do evento.
Dicas para o feriado
O Conecta selecionou uma lista de filmes e séries para conscientização e conhecimento sobre a luta da comunidade negra de forma envolvente e didática. Confira a seguir.
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