Moda mineira destaca sustentabilidade e inclusão
Maria Julia Coelho
Criatividade e tradição se encontram no trabalho de designers de moda da cena mineira. Cibelle de Paula, por exemplo, tem uma trajetória que une o aprendizado familiar ao desejo de inovar e trouxe para o evento Minas Trend, em outubro deste ano, coleção baseada no resgate de técnicas de tapeçaria e a alfaiataria.
Ela fundou a marca Realiser em 2015, fruto do desejo de transformar o conceito de vestuário, e o resultado são peças que não apenas vestem, mas contam histórias de resgate cultural e dedicação ao trabalho manual. “Foi criada quando eu fiz o primeiro protótipo, um casaquinho de número 38, que parecia um bolero, e tudo com consultoria de Terezinha Santos, responsável aqui pelo evento. Ao contrário dos vestidos de festa e moda tradicional, eu quis fazer algo diferente”, relata.
“Foi daí que pensei pensei: o corpo tem contornos e o tapete é uma placa reta, então como eu faria para um tapete vestir um corpo?” A designer mudou a gramatura da tela e a torção da linha de bordado: “a linha de tapete tem uma torção a mais e, dessa forma, o bordado fica muito grosso, não iria costurar na máquina”. E chegou a uma pesquisa de um ponto mais coeso para poder aplicar no vestuário.
“Uma peça comprida ou uma peça longa demora uns seis meses para poder bordar. Não é algo que se vende em atacado, é 90% de bordado manual, é tão artesanal que tem que ser feito para uma pessoa específica, para um corpo específico, então, para cá, eu tive que ter um tempo de maturação de bordados para poder trazer”, explica.
A coleção traz o conceito de remontar, totalmente artesanal. “É um trabalho trazido do período colonial do Brasil e ele foi esquecido durante uma temporada, mas para resgatar bordado ele tem que ser ensinado”.
Sustentabilidade
A estilista Iaskara Oliveira também destaca peças autorais, combinando sustentabilidade e inovação. Feitas a partir de papel reciclado, derivado de sacos de cimento e fibras de bananeira, as peças de Iaskara também se destaca pelos processos manuais e de tingimento natural. Suas criações, com forte identidade visual, são resultado de um trabalho que explora as possibilidades do papel como matéria-prima na moda, criando peças que são, ao mesmo tempo, sustentáveis e impactantes, como explica a estilista.
Diversidade
Ao longo dos anos, o evento de moda Minas Trend tem se consolidado como um dos maiores do Brasil e, com isso, vem a responsabilidade de abordar temas que refletem a realidade social e cultural do nosso estado. A pauta da inclusão e diversidade é central nesse contexto da moda, e o evento tem mostrado sinais de evolução, ainda que com passos lentos. A inclusão de modelos plus size, por exemplo, representa um avanço, mas ainda há uma longa jornada até que a diversidade esteja plenamente refletida em nossas passarelas e na indústria como um todo.
A presença de modelos trans, pessoas com deficiência, e diferentes expressões corporais e de gênero ainda é escassa, e isso limita a capacidade do evento de se conectar com o público mais jovem. Diversificar a representação nas passarelas significa celebrar a pluralidade de corpos e histórias, tornando o evento mais inclusivo e relevante para todos.
Confira a opinião das influenciadoras de moda Amanda Reblin e Jean Sarnaglia que observam o que falta, na perspectiva da diversidade, no Minas Trend, e como o evento pode avançar em relação a essa pauta.
Conecta: Vocês têm visto essa diversidade sendo pautada e refletida nos desfiles?
J.S.: Acho que não, ainda faltam modelos trans na passarela. Pela magnitude do evento, é muito importante que essa diversidade seja aplicada, mesmo que aos poucos.
A.R.: A gente já teve ali um desfile plus size, uma coisa que não tinha antes, mas aumentar ainda mais essa diversidade seria muito interessante para o Minas Trend chegar a mais públicos.
Então, vocês acreditam que a diversidade ainda é um ponto a ser trabalhado no evento?
A.R.: Sim, falta incluir mais gente de todos os tipos. A gente espera ver nas próximas edições cada vez mais diversidade de pessoas aqui na feira para ficar ainda melhor.
Conecta: E sobre a moda mineira? Vocês consomem?
A.R.: Gosto muito, acho que a moda mineira tem um ‘quê’ mais chique, trabalha muito com pedraria, tecidos nobres, mix de tecidos. Sinto que aqui posso me montar, me vestir à vontade, é um estilo bem interessante. A demanda por mais inclusão e representatividade nos mostra que a moda não é só sobre o que se veste, mas também sobre quem veste. O futuro do Minas Trend certamente será mais brilhante ao refletir a riqueza e diversidade das pessoas que fazem a moda acontecer.