Brasil, país do futsal: vencemos, mas e a festa?
Por Melissa Monteiro
Pela sexta vez, o Brasil celebrou sua excepcionalidade no cenário mundial de futsal, ao conquistar mais um título da Copa do Mundo, reafirmando sua tradição no esporte e o talento dos atletas brasileiros. O hexa pode não ter sido conquistado pelo futebol, mas sim pelo futsal, futebol adaptado para a prática em uma quadra esportiva, por times de cinco jogadores.
Mesmo com essa recente conquista de peso, o futsal brasileiro ainda sofre com a falta de valorização e investimento. Diferente do futebol de campo que movimenta cifras, atrai grandes patrocínios e tem ampla cobertura midiática, o futsal continua à margem dos holofotes. Os campeonatos nacionais recebem pouca visibilidade e muitos jogadores enfrentam dificuldades para alcançar condições financeiras adequadas.
O goleiro do time Passos Futsal, Henrique Augusto de Oliveira, comenta que “no futebol o retorno lucrativo é muito maior do que no futsal, por ter mais visibilidade e audiência na televisão”, ao contrário do que ocorre com a cobertura midiática do futsal. “O investimento e a popularidade são bem menores, uma das coisas que poderiam mudar isso seria mais times de camisa do futebol investir em time de futsal. Hoje apenas o Corinthians tem um time que joga a liga nacional, já tivemos Atlético Mineiro campeão, já tivemos o Santos também campeão.”
Esse cenário de desvalorização não condiz com o talento que o Brasil tem mostrado. A formação de craques no salão é um processo que dura anos e muitos dos grandes nomes do futebol de campo, como Ronaldinho Gaúcho e Neymar, deram seus primeiros passos justamente nas quadras de futsal. O atleta Miguel Otávio de Oliveira, de 18 anos, joga futebol de campo hoje em dia, mas iniciou, como grandes nomes, no futsal.
Em entrevista ao Conecta, o jogador fala sobre sua trajetória profissional e as dificuldades em permanecer na modalidade e reconhece o aprendizado técnico e cognitivo obtido nas quadras de futsal. “Gratidão. Devo muito ao futsal, por tudo que já me proporcionou na vida.”
A conquista da Copa do Mundo de Futsal deveria ser um ponto de virada para que o esporte ganhasse mais espaço no cenário esportivo nacional. Além da falta de visibilidade midiática, Israel Silva Junior, conhecido como Juninho, é treinador de futsal e garante que a maior dificuldade que tem na profissão é estrutural, comprometendo a visibilidade e reconhecimento dos atletas da modalidade, o que leva novos talentos do futsal ao futebol de campo.
“O salário do futsal deixa sim a desejar um pouco, hoje em dia tem muitos jogadores que optam pelo extraoficial do que pelo profissional e, por esse motivo, às vezes no extra conseguimos ganhar mais em cinco, seis jogos no mês, do que ganharíamos em um mês de salário como profissional”, afirma Henrique Augusto, ponderando quanto a sua experiência profissional. “As condições de trabalho nos lugares em que jogou até hoje foram ótimas, nunca tive do que reclamar.”
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