Michelle Capanema: “Cerca de 15% dos novos casos por Covid-19 são crianças de 0 a 4 anos”

Por Ana Clara; Ana Júlia; Esther Christine e Luís Felipe.

Pediatra Michele Capanema, no Hospital Geral Roberto Santos
Foto: Acervo pessoal

A Covid-19 é uma infecção respiratória causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. De elevada transmissibilidade, a doença é potencialmente grave, o que causou uma crise sanitária em 2020, quando ainda não havia vacinação contra a doença. Pertence ao subgênero Sarbecovírus da família Coronaviridae e é o sétimo coronavírus conhecido a infectar seres humanos.

Na entrevista a seguir, o Conecta conversou com Michelle Capanema, médica pediatra do Hospital Geral Roberto Santos, a respeito das novas variantes do vírus de Covid-19, como elas podem influenciar na dinâmica da doença e quais são os novos desafios em relação à doença, especialmente para as crianças. Capanema ressaltou a eficácia das vacinas e a importância da vacinação para a prevenção da doença. Além disso, a médica abordou os avanços científicos no tratamento do vírus.

Conecta: Como as variantes do vírus têm influenciado a dinâmica da doença, e quais desafios específicos elas apresentam para os esforços de controle?

Michelle Capanema: Quando ocorre a infecção, o vírus faz cópias de seu RNA; um erro gera uma mutação, que pode mudar suas características, gerando então as variantes, causando sintomas desde mais leves até mais graves, o que dificulta em achar um tratamento específico ou até mesmo uma vacina que contemple todas as variantes dificultando o controle da doença.

Conecta: Qual é a eficácia das vacinas disponíveis em relação às novas variantes e a importância contínua da vacinação?

MC: As vacinas contra a COVID-19 são muito eficazes e deram uma contribuição importante para limitar a transmissão do vírus SARS-CoV-2 em todo o mundo e continuam mostrando forte proteção contra doença grave e morte em todas as variantes de vírus identificadas até o momento. Porém, sabemos que nenhuma vacina é 100% eficaz na prevenção da doença. Sempre haverá uma pequena porcentagem de pessoas totalmente vacinadas que ainda ficarão doentes. Por isso, a importância contínua da vacinação, pois a vacina modificada (incluindo as variantes) e administrada como dose de reforço faz com que se amplie a imunidade, mantendo a proteção contra doença grave e morte.

Com os adultos mais protegidos pelas vacinas, as crianças passaram
a ser parte dos grupos etários mais afetados”

Conecta: Há alguma mudança nas faixas etárias mais afetadas pelos novos casos?

MC: Sim, cerca de 15% dos novos casos por Covid-19 são crianças de 0 a 4 anos de idade. O resultado reforça a necessidade de vacinação para essa faixa etária. E a maior parte dos casos atinge também os pacientes de 60 a 80 anos de idade. Com os adultos mais protegidos pelas vacinas, as crianças pequenas (muitas ainda não estão em dia com a vacina contra a Covid-19) passaram a ser parte dos grupos etários mais afetados pelos casos graves da doença.

Conecta: Existem lições aprendidas com as fases anteriores da pandemia que estão sendo aplicadas para enfrentar os novos desafios?

MC: Claro, por exemplo, a questão da higienização das mãos, o uso de máscaras em ambiente hospitalar, o uso de máscara em caso de sintomas gripais, o incentivo à vacinação e a realização de campanhas e adesão da população foram as lições aprendidas na fase inicial da pandemia que são usadas no cenário atual.

O vírus não deixará de existir, assim como tantos outros”

Conecta: Como os avanços científicos recentes estão contribuindo para o desenvolvimento de terapias mais eficientes?

MC: Quando se iniciaram os investimentos em vacinas para combater o coronavírus e variantes, devido aos avanços científicos, conseguiram uma vacina dentro de um ano e concomitantemente, começaram a ser realizadas também pesquisas com medicamentos que já existem para outras doenças em pacientes da Covid-19 gerando cada vez mais terapias eficientes.

Conecta: Quais são suas perspectivas para o futuro próximo em relação à evolução da pandemia no Brasil?
MC: Bem, é evidente que o vírus não deixará de existir, assim como tantos outros (adenovírus, rotavírus, influenza), porém, é esperado que a partir do momento em que a população se conscientizar e se vacinar, usar máscara quando apresentar sintomas gripais, fazer higiene das mãos e de objetos e se proteger, cada vez menos casos graves acontecerão como na fase inicial da pandemia e a doença estará nesse caso controlada.

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