Leo Lachini: “A música arrepia ou não. Se não me emociona, não rola”

Por Carlos Fernando, Dalila Lana, Leandro e Mariana Luquine

Foto: Acervo pessoal

Leo Lachini, natural de Belo Horizonte, iniciou sua trajetória musical aos 4 anos com o piano e, aos 14, autodidata no violão com incentivo do amigo Inácio Cavalieri. Destacou-se em 1991 com a banda Entropia no Rock School Festival. De 1993 a 2005, foi guitarrista da banda Tianastácia, contribuindo em discos reconhecidos, inclusive com indicação ao Grammy Latino. Realizou seu mestrado na Université Paris Est, aprofundando-se na influência do ambiente na qualidade da gravação. De volta ao Brasil, tornou-se consultor em acústica e sonorização.

Retomou a produção musical, gravando grupos como Skank e Cesar Menotti e Fabiano. Em 2012, ingressou na Riedel Comunicações, participando de grandes eventos globais, como Jogos Olímpicos de Londres e Formula 1. Em 2014, fundou a Leo Lachini Sound Design and Acoustics, focando em consultoria acústica, produção musical e design de estúdios. Destacou-se também na instauração do projeto REC em 2015, inspirado em festivais internacionais, registrando shows de bandas autorais ao vivo. É reconhecido por sua técnica refinada, bom gosto musical e compromisso com a entrega oportuna de seus trabalhos.

Em entrevista ao Portal Conecta, Leo Lachini fala sobre suas experiências profissionais como produtor musical e engenheiro de som no mercado musical e comenta sobre as perspectivas desse cenário no contexto atual.

Conecta: Em 1996, você entrou na banda Tianastácia, assumindo o posto de guitarrista. O quão importante foi para você essa experiência e como ela reverbera até hoje na sua carreira?

Leo Lachini: Já tocava com a banda MANDRIX (que existe até hoje) que é um tributo a Jimi Hendrix. Então, estava bem “afiado” na guitarra quando fui convidado pelo ex-baterista Cadu Nastácia (falecido em 1997, que tocava comigo no Mandrix) para entrar no Tianastácia. A banda estava no segundo dia de gravação do primeiro CD “ACEBOLADO”, e eu estava finalizando a faculdade de Odontologia. Topei entrar sem pensar, gravei o disco, me formei e continuei dividindo o trabalho de guitarrista e dentista de 1996 até janeiro de 1999, quando passei a me dedicar exclusivamente à música. O tempo passou, toquei pelo Brasil afora e conheci muitas pessoas no meio musical que sempre acompanharam a minha trajetória. Acabei sendo dispensado da banda em 2005. A partir daí, trabalhei no estúdio do Skank, onde aprendi a arte da gravação de som e morei fora para fazer um mestrado em gravação na França, o que acabou se tornando uma especialização em acústica. Ao voltar para o Brasil, continuei tocando em bandas menores e confesso que já não estava mais animado a tocar guitarra profissionalmente. Mas, a partir de 2019, por causa dessa rede de relacionamentos conquistada pela minha passagem na banda Tianastácia, voltei a tocar ao lado de grandes artistas como Rodrigo Santos, Nando Reis, Henrique Portugal, Leo Jaime e mais recentemente com Armandinho (A Cor do Som). Resumindo: o mais importante da minha passagem na banda Tianastácia foi a quantidade de pessoas do meio musical que conheci e que levo até hoje comigo.

C: Em seu trabalho como produtor musical, quais qualidades você observa para realizar a captação de novos talentos?

LC: Pra mim é muito simples: ou a música arrepia ou não. Se não me emociona, não rola. Basta violão e voz, uma bela melodia (inclusive até mais do que uma letra elaborada) e se arrepiar, já é. Está pronta para ser arranjada/produzida/gravada. Já aconteceu de existirem músicas que não curto de primeira, mas que vejo alguma coisa ali e uma hora ela vira a chave e acaba arrepiando. Mas na maioria das vezes a emoção bate imediatamente, no violão e voz.

“O mais importante da minha passagem na banda Tianastácia foi a quantidade de pessoas do meio musical que conheci e que levo até hoje comigo”

C: Quais são as maiores dificuldades enfrentadas no mercado musical brasileiro?

LC: Hoje é muito mais fácil ter músicas gravadas. Em casa mesmo é possível que um álbum seja gravado. Consequentemente, muita coisa é lançada todos os dias, o que torna o mercado muito competitivo. E hoje as redes sociais representam um papel muito importante no sucesso de um artista, infelizmente. Não é só a qualidade musical (se arrepia ou não) que conta. Acredito que é necessário um engajamento enorme de público para fazer uma música “virar”. Lá atrás, em 1996, era muito caro gravar um álbum e divulgá-lo. O sonho de todas as bandas era ser contratado por uma gravadora porque havia o investimento e a divulgação na grande mídia. Mesmo assim, se o trabalho não fosse consistente, a banda não vingava.

C: Com diversas bandas já consolidadas, como Skank, Tianastácia, Jota Quest e Lagum, como você enxerga o rock e sua evolução em Minas Gerais?

LC: O rock sempre vai existir em MG e no mundo afora. Porém, conforme citei na questão anterior, hoje é muito mais difícil fazer sucesso pela quantidade de bandas que existem e são lançadas todos os dias. Skank e Jota se consolidaram na década de 90, antes de existir pirataria e streaming e souberam conduzir a carreira. Lagum é um exemplo que deu sorte de ter uma música estourada no streaming (“Deixa”) apesar do indiscutível talento e a partir daí, conseguem se manter no mercado, o que é muito difícil na minha opinião.

“O sonho de todas as bandas (em 1996) era ser contratado por uma gravadora porque havia o investimento e a divulgação na grande mídia”