Zenith Araújo: “A Feira Hippie é uma terapia”

Por Júlia Costa, Laura Lopes, Laura Teixeira, Samira Helena e Vitória Figueiredo 

Zenith Araújo em seu ponto de venda na Feira Hippie
Foto: arquivo pessoal  

Fundada em 1969 por artesãos, a Feira de Artes, Artesanato e Produtores de Variedades de Belo Horizonte, também chamada de Feira Hippie, é um espaço de venda de produtos e alimentos, além de um ponto cultural importante para a cidade. De acordo com o site oficial da feira, 80 mil pessoas a visitam semanalmente. Aberta em todos os domingos do ano, das sete às 14 horas, a Feira Hippie é responsável por 0,4% do PIB de Belo Horizonte. Zenith Araujo, 78 anos, artesã e vendedora na Feira Hippie, acredita que, além de ponto cultural, o espaço é um local de turismo, que proporciona benefícios aos feirantes e aos visitantes. Há 42 anos, Zenith vende panos de prato, aventais, bate-mão, puxa saco e luvas térmicas na feira, desde a época em que era realizada na Praça da Liberdade. Atualmente, a feira acontece na Avenida Afonso Pena. O Conecta conversou com Zenith sobre seu trabalho. Leia a entrevista completa a seguir. 

Conecta- Quais foram as principais mudanças na feira hippie ao longo dos anos? 

Zenith Araújo – Tiveram mudanças para nós, feirantes. Agora, a barraca é toda personalizada para cada feirante. Tem escrito na frente da barraca o que eu faço (artesanato), o número da barraca, o telefone. É uma identificação. Outra coisa que também melhorou muito para a gente foram os banheiros. Puseram banheiros exclusivos para nós, feirantes. Tem sabonete, água, álcool, e o feirante tem até a chave para a pessoa entrar, sabe? Essa foi a conquista que teve pra gente em 2023. Os banheiros foram instalados lá para o mês de maio, mais ou menos. São muito limpinhos. A prefeitura também colocou cadeiras e mesas nas áreas de comida para as pessoas se sentarem. Antes, todo mundo ficava em pé e não tinha onde sentar. 

Conecta- Além do retorno econômico, quais outras vantagens de trabalhar com artesanatos na Feira Hippie? 

ZA – Outra vantagem é trabalhar com o que eu gosto. Desde criança, eu sempre gostei muito de mexer com artesanato. Sempre que eu via uma pessoa fazendo crochê ou pintura, eu ia atrás, eu queria aprender artesanato. Até hoje, eu gosto muito do que faço. Um estímulo que temos para seguir em frente são as pessoas que gostam do trabalho da gente. Elas chegam, gostam do produto, acham bonito e falam para continuar, eu acho muito bom. Me sinto realizada quando uma pessoa chega na feira e fala ‘nossa, mas que beleza, que coisa bonita’. Até hoje, parece que eu tô vivendo a primeira experiência. Eu faço artesanato por gosto mesmo. É uma coisa que tá dentro de mim. A feira, para mim, é uma terapia. Um conselho: faça tudo do jeito que você gosta. Trabalhar com amor é uma coisa muito legal. 

“Um estímulo que temos para seguir em frente
são as pessoas que gostam do trabalho da gente”

Conecta- Como a feira contribui para a comunidade local e para a cena artística de Belo Horizonte? 

ZA – Eu acho que a feira é um ponto de turismo, ajuda muito a todos os feirantes e a quem vai lá comprar, né? É um grande comércio que não pode acabar nunca. É um ponto turístico, ali tem pessoas que fazem as coisas muito bem feitas. Muito perfeito o trabalho, né? É um ponto turístico em Belo Horizonte, aos domingos não tem nada de novidade na cidade. É só ali que o pessoal vai mesmo. 

Conecta- A senhora enfrenta algum desafio sendo uma pessoa de idade e vendendo artesanato? 

ZA – O desafio que eu tenho todos os dias são pessoas querendo tirar a gente [pessoas de idade] para colocar gente jovem. Estão querendo que a pessoa que tenha mais de 20 anos de feira largue o ponto e deixe para os mais jovens. As pessoas falam: “para quê que você tá aqui? Deixa para os mais jovens”. Há um grande preconceito com as pessoas de mais idade. Isso eu enfrento quase todo domingo. Outra coisa: na feira, é cada um por si. Ninguém procura ajudar o outro. As pessoas dizem: “poxa, eu já tinha desistido dessa feira há muito tempo, não voltava aqui mais não”. Mas eu sou teimosa, persistente. Seja o que for, todo domingo eu estou na feira. E isso já tem 42 anos. Se não fosse a persistência, ninguém ficaria vendendo lá por tanto tempo. 

“As pessoas falam: para quê você tá aqui?
Deixa para os mais jovens”