Uso excessivo das telas afeta saúde de crianças e adolescentes, alertam especialistas
Por Henrique Gil, Kailan Nunes e Maria Eduarda dos Santos
Hoje as crianças e adolescentes estão imersos no universo virtual desde cedo. Este panorama, marcado pela crescente presença online de forma precoce não apenas reflete uma transformação nas dinâmicas sociais, mas também traz desafios. O debate sobre a exposição diária desses jovens nas redes sociais emerge como um ponto crucial, provocando reflexões sobre os impactos profundos que essa imersão digital pode ter em sua saúde mental e emocional.
A convergência da infância e adolescência com o mundo virtual traz à tona questionamentos sobre como, por exemplo, equilibrar o acesso à tecnologia com a necessidade fundamental de preservar a integridade emocional e psicológica dos jovens em formação. O entendimento desses desafios é essencial para orientar estratégias que promovam uma interação digital saudável, proporcionando um ambiente propício para o desenvolvimento integral dessas gerações que estão moldando sua identidade em meio a esse cenário tecnológico em constante evolução.
Presença digital
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta a participação cada vez mais precoce, mas também um envolvimento significativo nesse cenário tecnológico em constante evolução. Com uma média de três horas e 29 minutos diários conectadas à internet, os jovens não apenas consomem passivamente o vasto conteúdo online disponível, mas também se tornam ativos participantes, compartilhando suas próprias experiências nas redes sociais.
Pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) destaca que aproximadamente 81% dos adolescentes brasileiros, situados na faixa etária entre 13 e 17 anos, possuem perfis ativos em pelo menos uma plataforma online. A estatística reforça não apenas a presença massiva dos jovens nas redes sociais, mas também a extensão de sua participação ativa como criadores de conteúdo, narradores de suas próprias histórias digitais e participantes ativos na construção desse cenário digital, mostrando consequências severas que esse acesso precoce pode trazer.
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Riscos da exposição
A integração precoce ao universo digital levanta não apenas questões sobre a quantidade de tempo dedicado a essas plataformas, mas também a natureza da interação online e seus impactos nas vidas emocionais e sociais desses jovens. O entendimento profundo dessas estatísticas é essencial para orientar políticas públicas, práticas educacionais e ações parentais que promovam uma relação equilibrada e saudável entre a juventude e o universo digital em constante transformação.
Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) traz à tona um aspecto crucial desse fenômeno, revelando que 73% dos adolescentes sentem uma pressão significativa para manter uma imagem idealizada nas redes sociais. Esse dado não apenas destaca a busca incessante por validação e aceitação no ambiente digital, mas também aponta para os desafios emocionais que surgem quando a autoimagem é constantemente moldada por padrões muitas vezes irreais.
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A inquietação em relação à autoestima não é um fenômeno isolado entre os adolescentes. Os dados também revelam que 58% dos pais compartilham preocupações semelhantes, indicando uma percepção crescente dos desafios emocionais associados à exposição online de seus filhos. Essa sincronia nas preocupações sublinha a necessidade urgente de abordar questões relacionadas à saúde mental e emocional, não apenas entre os jovens, mas também entre aqueles que têm a responsabilidade de guiá-los por esse cenário digital complexo.
Os dados mostram que a presença online dos jovens não é apenas uma narrativa de conexão e compartilhamento, mas também uma trama complexa de desafios emocionais e sociais que exige atenção cuidadosa e ações práticas para proteger o bem-estar dessas gerações digitais. A SBP ressalta as consequências do uso de telas entre crianças e adolescentes, identificando consequências do contato com conteúdo sensível por crianças.
Desafios
Entretanto, as rápidas mudanças tecnológicas representam um obstáculo considerável para os responsáveis. O surgimento constante de novas plataformas, aplicativos e dinâmicas online desafia a capacidade dos pais de manterem-se atualizados e, consequentemente, torna a definição de diretrizes claras um desafio em si. O rápido avanço da tecnologia pode criar um hiato geracional, ampliando a lacuna de compreensão entre pais e filhos em relação ao mundo digital.
Outro obstáculo enfrentado diz respeito às mães solteiras, com mais de um filho, que já enfrentam uma série de desafios, incluindo o controle da exposição das crianças às telas. Com pouco tempo e recursos, pode ser difícil para essas mães monitorar o tempo que seus filhos passam no celular, computador ou televisão.
Para Bruna Gil, que mora sozinha com seus dois filhos, Eduardo e Bernardo de 4 e 2 anos, respectivamente, diz que depois do nascimento da segunda criança ficou mais difícil controlar a exposição cada vez mais rápida do mais velho às telas.
Nesse contexto, é fundamental que os responsáveis não apenas reconheçam a necessidade de orientar seus filhos, mas também busquem ativamente o entendimento das plataformas e práticas digitais emergentes. A abertura para aprender, adaptar-se e dialogar sobre o uso responsável da internet é essencial para criar um ambiente de confiança e comunicação eficaz entre gerações.
A colaboração entre pais, educadores e especialistas em tecnologia é crucial para desenvolver estratégias que permitam uma supervisão eficaz, ao mesmo tempo em que incentiva a autonomia e a educação digital dos jovens. Essa abordagem holística é vital para enfrentar os desafios dinâmicos que a era digital impõe à parentalidade e responsabilidade de guiar os jovens em um mundo cada vez mais conectado.
Proteção
A importância da conscientização e do diálogo aberto emerge como uma peça central na busca por estratégias eficazes para proteger crianças e adolescentes em um ambiente digital em constante expansão. De acordo com o psicólogo Bruno Barroso Ferreira, os pais nunca devem proibir seus filhos de utilizar a internet, a melhor alternativa para isso é o diálogo com as crianças para fazê-las entender que existe um tempo saudável de uso. Esse tempo, segundo ele, seria diferente em cada nível da infância, 1 hora de uso máximo durante a primeira infância (0-3 anos), 2 horas durante a segunda (3-7 anos) e 3 horas para a terceira (7-12 anos).
O estabelecimento de limites temporais para o uso de dispositivos é uma estratégia prática que visa equilibrar a presença online dos jovens, evitando excessos que possam impactar negativamente seu bem-estar físico e mental. Quando os limites não são respeitados, os primeiros sinais de problemas psicológicos começam a aparecer.
O psicólogo ressalta que o melhor método para ajudar crianças que já sofreram danos por conta dessa exposição é por meio da Terapia Cognitiva Comportamental, que vai trabalhar tanto no mental da criança que necessita de ajuda, quanto perceber e analisar seu comportamento para um diagnóstico e intervenções necessárias.
Em última análise, a conscientização, o diálogo aberto e a implementação de estratégias educativas e práticas são elementos interconectados que moldam a abordagem para proteger crianças e adolescentes em um mundo digital em constante transformação. A colaboração contínua entre pais, responsáveis, educadores e especialistas em tecnologia é essencial para adaptar-se às mudanças, compreender as necessidades dos jovens e promover uma relação saudável e equilibrada com a tecnologia.
Confira as orientações da SBP:
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