Quando o luto desafia a saúde mental
Por Giovanna Ribeiro
Após uma grande perda, seja relacionada à morte de um ente querido ou ao fim de um relacionamento, o luto é uma das formas de lidar com essa perda. No entanto, quando se torna prolongado, a situação pode ser preocupante. A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar o luto prolongado, ou luto patológico, um transtorno mental somente em 2022, incluindo-o na Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
A professora da Fumec, Karen Saviotti, enfatiza a importância do acompanhamento profissional no tratamento do luto, para que se possa evitar que o sentimento se transforme em transtorno. Saviotti aconselha que seja procurado o tratamento terapêutico, se for possível, assim que a perda ocorrer, evitando a degradação da saúde mental e tendo como consequência o luto prolongado.
O luto prolongado apresenta semelhanças com a depressão, o que causa confusão em pessoas que não entendem esse transtorno. Sua principal característica, que difere da depressão, é que no luto patológico a causa de tristeza e angústia é muito bem estabelecida, ao contrário de um quadro de depressão maior.
Poucas pessoas compreendem o transtorno recentemente incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), visto que nem todos têm conhecimento dessa condição em que podem se encontrar. A sociedade brasileira frequentemente parece não reconhecer a existência de outros tipos de luto, além do luto pela morte de uma pessoa querida. Por exemplo, o luto pela perda de um emprego, de um relacionamento amoroso, de um sonho não realizado, ou mesmo o luto pela perda da saúde física ou mental, podem ser igualmente avassaladores.
No entanto, a sociedade muitas vezes não dá o devido espaço para que as pessoas expressem e processem essas outras formas de luto. Para Saviotti, há necessidade de ressignificar a visão da perda; só assim seria possível compreender a gravidade do luto patológico. Ela diz que “falar de morte ajuda a gente a entender a vida, porque só entende que um dia ‘vamos embora’, a gente pode dar um significado, um sentido à vida da gente com mais profundidade”.
No vídeo a seguir, o psicólogo Alexandre Coimbra reforça que o luto não é sinônimo de esquecimento. “Luto é tudo, menos deixar de lembrar ou ficar indiferente a quem marcou nossa vida.”