Ciência avança na prevenção, diagnóstico e tratamento do Alzheimer
Por Vitória Figueiredo
O Alzheimer é um transtorno caracterizado pela degradação da memória e da cognição do indivíduo. Com erros no processamento de proteínas do sistema nervoso, neurônios de algumas regiões do cérebro começam a perder as funções. O principal sintoma é a perda de memória recente.
No mundo, mais de 30 milhões de pessoas vivem com a doença que não tem cura. Porém, descobertas científicas recentes podem fazer a diferença nos diagnósticos e tratamentos da enfermidade.
Em 2023, um medicamento que retarda a evolução dos sintomas e fases do Alzheimer foi aprovado. O remédio teve bom desempenho quando aplicado em estágios iniciais da doença e foi capaz de desacelerar o declínio cognitivo dos pacientes. Estudos continuam a ser feitos, pois os efeitos colaterais ainda são considerados graves.
Saiba mais sobre as descobertas relacionadas ao Alzheimer.
Outro avanço está relacionado às vacinas. Imunizantes já existentes (contra tétano, difteria, coqueluche, herpes zóster e infecções bacterianas) podem diminuir em 30% a chance de desenvolver Alzheimer. Eles podem fazer o sistema imunológico reagir ao acúmulo de proteínas que provoca a doença.
Um novo exame de sangue, produzido pelo Instituto Fleury, detecta a presença da proteína tau, presente em abundância no cérebro de quem possui Alzheimer. Em relação aos métodos existentes, o teste PrecivityAD2 é menos invasivo e revela se o paciente poderá, ou não, desenvolver a doença. Se a proteína estiver presente, é possível adotar medidas precoces para prevenir a evolução da enfermidade.
Acessibilidade
O médico geriatra do Hospital Mater-Dei, Flávio Amaral, explica que não existem testes gratuitos para diagnóstico de Alzheimer: “Os métodos existentes ainda são menos acessíveis, por conta do valor, e poucos convênios cobrem. Então, a princípio, o paciente arca com as despesas desses testes”.
Para Amaral, os testes de Alzheimer podem ficar mais acessíveis com financiamento governamental: “À medida que [os diagnósticos] forem sendo feitos em mais pacientes, tendo resultados mais positivos e boa resposta, vai se desenvolvendo o interesse do governo, das políticas de saúde, para tentar financiar esses testes”, finaliza.
SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) garante assistência aos portadores de Alzheimer. A partir de uma iniciativa do Rio Grande do Sul, os diagnósticos da doença poderão ser realizados em larga escala pelo SUS, caso o Estado adquira um equipamento que detecta a doença por exames de sangue. O teste que custa R$ 10 mil na rede de saúde particular terá o preço de R$100 pelo SUS.
RS pode se tornar referência em diagnóstico precoce do Alzheimer.
Há tratamentos e medicamentos para o Alzheimer no SUS, além de equipes com profissionais especializados. Ofertados nos Centros Especializados em Reabilitação, os serviços podem ser acessados em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), ou na Secretaria Municipal de Saúde.
Familiares
O apoio familiar é fundamental para a qualidade de vida da pessoa com Alzheimer. A jornalista e ex-aluna do curso da Fumec, Fernanda Alves, desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso (TCC), a reportagem televisiva “Alzheimer: Tempo de Afeto”, que discute a importância do acesso à informação sobre a doença e o como carinho com o paciente fazem a diferença no tratamento.
“Meu foco principal [ao fazer o TCC] era passar informações para facilitar a vida das pessoas, para que elas não enfrentem as mesmas barreiras que a minha família teve que enfrentar devido à escassez de informação sobre o Alzheimer”, relata a jornalista.
Alves, cujo avô tem Alzheimer, acredita que o afeto é a parte mais importante ao lidar com uma pessoa com a doença: “Nossa relação, hoje, é baseada 100% no afeto. Na lembrança do afeto, na verdade ele não tem as lembranças vívidas, mas tem o afeto que é o que mantém meu avô presente na minha vida até hoje”.
Cuidado
Um profissional especializado no cuidado de enfermos tem papel central no bem-estar do paciente e, por consequência, da família. Para a cuidadora Juliana Vzone, o trabalhador deve saber lidar com o portador de Alzheimer: “O cuidador ou cuidadora tem que ter muito carinho, paciência. Aprendi que não se deve teimar ou contrariar o paciente. É necessário saber ouvi-lo”, afirma.