Andréa Vasconcellos: “As comunidades não têm as mesmas oportunidades, o que passa pela ideia de justiça social”

Por Gabriela de Castro

A coordenadora do setor de extensão da FCH, professora Andrea Vasconcelos, explica as ações do Dia da Responsabilidade Social que será realizado neste sábado, em parceria com a Associação Querubins. O evento faz parte do projeto interdisciplinar dos cursos de Engenharia, Ciências Contábeis, Direito e Psicologia.

Professora e coordenadora do setor de Extensão da FCH, Andrea Vasconcelos

O Conecta conversou sobre a iniciativa com a professora e coordenadora do setor de Extensão da Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade FUMEC, Andréa Vasconcellos. Advogada trabalhista, bacharel em direito, pós graduada em Metodologia do Ensino Superior e Processo Civil e mestre em Direito Público e Instituições Políticas, Vasconcellos coordena as ações do projeto. 

Na entrevista a seguir, a professora explica como funciona a atividade e a parceira com a Associação Querubins e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), além de relembrar as edições anteriores do Dia da Responsabilidade Social que envolvem ações de extensão voltadas à transformação social.

Conecta: Como funciona o evento do Dia da Responsabilidade Social?

Andréa Vasconcellos: Todo mês de setembro tem o Dia da Responsabilidade Social, no qual as universidades têm por missão levar um pouco do conhecimento para pessoas em situação de vulnerabilidade e comunidade, de forma geral, através dos atendimentos. Aqui na Fumec, há a tradição de adotar a multidisciplinaridade, pois são diferentes cursos envolvidos, e é promovido em espaços públicos. Já fizemos no Mercado Central, no mirante do Parque Prof. Amílcar Vianna Martins (ao lado da Fumec) e ano passado foi na Praça Marechal Floriano Peixoto. Esse ano, nós tivemos a ideia de levar os nossos serviços para uma associação que atende moradores da Vila Acaba-Mundo, no final da Praça JK. Fizemos parcerias com o laboratório que vai fornecer alguns lanches e as lancetas para medição de glicose, com a prefeitura que doou alguns testes de HIV e sífilis, e com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que fará uma demonstração de salvamento rápido. Estamos tentando também uma colaboração com o Instituto de Identificação, para realizar primeiras identidades e segundas vias também. Estamos buscando essa rede de apoio para além do que podemos ofertar, então há envolvimento também dos cursos de Engenharia, Contábeis, Direito e Psicologia, que vão prestar atendimento a essas pessoas. Estimamos aproximadamente 300 pessoas nesse atendimento. 

“O objetivo é a contextualização do ensino-aprendizagem e o engajamento que concretiza a extensão”

Conecta: Como tem sido o engajamento dos alunos com o projeto? 

AV: Todo ano, quando esse evento acontece, há um professor responsável pela oficina. No público acadêmico, há uma parcela de alunos que se interessam por pesquisas e projetos de extensão, então normalmente o professor responsável convida esses estudantes que demonstram envolvimento. Não existe projeto de extensão sem participação de alunos, pois o objetivo principal é justamente essa contextualização do ensino-aprendizagem e é esse engajamento que concretiza a extensão.

Conecta: Vocês estão realizando o projeto em parceria com a Associação Querubins esse ano. Como tem sido a relação com a comunidade e com a Associação?

AV: É nossa primeira experiência com eles. Estamos conversando com o líder da comunidade, para entender as demandas deles e, também, com as pessoas que dirigem a Associação, pois como elas fazem o atendimento às crianças no horário que elas não estão na escola com oficinas, passamos uma proposta de oficinas e esses dirigentes nos deram um feedback de acordo com as demandas. Com essa composição, estamos construindo juntos o evento. 

“Temos que procurar entrar nas comunidades de forma que nos vejam com confiança e credibilidade”

Conecta: Existe a possibilidade da ação se tornar uma parceria permanente?

AV: Em relação à Associação Querubins, já estamos tentando envolver o público de lá em outras atividades. Na Mostra Fumec, por exemplo, um grupo de alunos da Associação foi convidado a participar no segundo dia de evento. Eu, como professora voluntária por conta própria, estou atuando na Querubins às quintas-feiras à tarde, estou dando aula de cidadania a eles. Pensamos em continuar essa parceria, não só com essa organização, mas com outras que aparecerem. Estamos sempre abertos para que essas ações sejam constantes, o objetivo não é midiático nem promoção da instituição, mas sim a instrumentalização da educação atendendo ao interesse de uma população que não tem esse acesso. 

Conecta: De quais formas é possível aproximar as comunidades do que é produzido pela universidade?

AV: Acredito que realmente através das ações. Primeiro, precisamos entender quem são essas pessoas e, despojados de todo e qualquer preconceito, pensar que elas não têm as mesmas oportunidades que nós temos, o que passa muito pela ideia de justiça social. A partir desse momento, temos que procurar entrar nessas comunidades de forma que eles nos vejam com confiança e credibilidade, mas de forma que não seja impositiva. Logo, é importante a compreensão do público, buscar uma compreensão das demandas existentes, ganhar confiança e desenvolver um projeto. 

Conecta: Como você percebe o envolvimento da PBH com o projeto?

AV: No caso dessa atividade, especificamente, a parceria teve início com o projeto BH de Mãos Dadas, que atende pessoas em vulnerabilidade e está ligado à Associação das Prostitutas. Começamos a trazer palestras e depois surgiu a possibilidade de fazer testagens, já que temos o curso de biomedicina. Tivemos esse primeiro contato porque meu filho é biólogo e trabalha nesse projeto, então, a partir dele começamos a desenvolver essa parceria, pois eu não conhecia essa iniciativa. No resumo, tem coisas que a prefeitura faz que são descontinuadas, outras a gente não tem conhecimento, mas tem muita coisa acontecendo, não só por parte da prefeitura, mas do próprio Estado, como a Farmácia de Minas que fornece alguns medicamentos gratuitamente e muitas pessoas não sabem, então acredito que falta uma divulgação maior. Além disso, acredito que falta interlocução e parceria com outras organizações. 

Conecta: Como a Fumec apoia o desenvolvimento dessa atividade de extensão?

AV: Temos muitas pessoas engajadas e com o propósito de ajudar. No fim, improvisamos do jeito que é possível, o que não pode acontecer é desistir de fazer por falta de recurso. Justamente por isso fizemos parcerias, para bancar insumos que não teríamos recursos financeiros para obter.