“Eu escolhi esperar” conquista jovens cristãos
Por Ana Luísa Ribeiro e Isabel Lopes Reis

Em um mundo marcado pela instantaneidade e efemeridade das relações, jovens cristãos aderem ao movimento “Eu Escolhi Esperar” (EEE) que, com base em princípios bíblicos, defende a espera pela relação sexual até o casamento, como parte de uma vivência alinhada às orientações religiosas. A proposta levanta o debate em torno da relação entre sexualidade, religião e busca por pertencimento social nessa fase da vida.
Desde os primórdios das civilizações, valores religiosos têm influenciado normas e comportamentos sociais. “Eu Escolhi Esperar” emerge atualmente como resposta à crescente fluidez das relações interpessoais, impulsionada por aplicativos de encontro e redes sociais. “A forma de se relacionar mudou muito. Para muitos jovens, a instabilidade e a efemeridade desses relacionamentos são fatores ansiogênicos”, destaca a psicóloga e sexóloga, Isadora Lisboa.
Além disso, pesquisadores como Eduardo Meinberg observam que a disseminação do movimento também está ligada à sua eficácia como produto cultural. Redes sociais, literatura e merchandising desempenham papeis cruciais na formação de uma identidade coletiva para seus participantes.


Pertencimento
Entre os jovens, em uma fase da vida caracterizada pela construção de identidade e busca por conexões genuínas, a adesão ao movimento não está ligada apenas à fé. “Existe um senso de comunidade muito forte. As pessoas se unem em torno de propósitos e valores compartilhados, o que gera apoio emocional e espiritual”, explica a psicóloga.
Para os cristãos, a escolha de esperar é uma forma de cuidar de si e dos outros.” Nós acreditamos que o relacionamento é para a vida inteira. Então, principalmente após o casamento, nós estamos com aquela pessoa ali para o resto da vida. Então, é um tempo de zelo e de cuidado, um tempo da gente conhecer o caráter da pessoa, de conhecer os gostos da pessoa”, afirma. A religião desempenha papel central ao oferecer conforto e direção. “A religião pode atuar como um ‘grande pai’, um ponto de referência para aqueles que buscam amparo emocional e espiritual.”
Apesar dos benefícios relatados, o movimento também é alvo de questionamentos. “Há casais que encontram plena realização sexual e emocional, mas também existem aqueles que enfrentam dificuldades por nunca terem explorado essas áreas antes do casamento”, afirma Lisboa. Um dos dilemas apontados é o fato de que, ao tentar afastar o foco do sexo, ele acaba colocando-o como uma área central no relacionamento. “É como dizer a uma criança para não comer um doce e deixá-lo visível. Isso pode gerar uma atenção maior ao tema.”
“Eu Escolhi Esperar” reflete mais do que um simples posicionamento sobre sexualidade e simboliza uma resposta a desafios contemporâneos, como a instabilidade dos relacionamentos e a busca por pertencimento. Para alguns, é uma escolha de vida que promove estabilidade e significado; para outros, o movimento levanta questionamentos sobre repressão e expectativas. A estudante e membro da Igreja Batista Amigos de Deus, Nívea Castelani, 21, integrante do EEE, acredita que “a fé é um estilo de vida: colocar Deus no centro ajuda a tornar o relacionamento mais leve e com propósito”.