Revista Mediação analisa alfabetização midiática e segurança digital
Por Isabella Ferreira e Vitória Figueiredo
A 36° edição da Revista Mediação apresenta dossiê sobre o tema “Alfabetização Midiática e Comunicação: cidadania e segurança digital na Educação”, trazendo conjunto de artigos sobre a educação midiática, isto é, a promoção de competências que possibilitem o uso do ambiente digital e midiático de maneira criteriosa.
A edição (janeiro/junho de 2024) trata da alfabetização midiática e comunicação, com ênfase na cidadania e na segurança digital no âmbito educacional. Mediação publica também entrevista com Bernadete A. Gatti, titular da Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica da Universidade de São Paulo (USP), sobre os desafios enfrentados pela comunicação e a educação.
Mediação
A Revista Mediação visa a socialização do conhecimento científico, por meio da divulgação de trabalhos acadêmicos, como artigos e dossiês de diversas áreas do conhecimento. Algumas delas são comunicação e sociabilidade, comunicação, política, ética e cidadania, comunicação especializada e organizacional, jornalismo comparado, comunicação e marketing, jornalismo esportivo, fotografia, cinema, vídeo arte, música, arte digital, web-art, inteligência artificial e publicidade.
A editora do periódico, professora doutora Nair Prata, explica que a Mediação, como revista científica, “desempenha um papel fundamental na disseminação e no avanço do conhecimento em suas áreas de abrangência”. Para a profissional, a revista gera discussões sobre assuntos de relevância social. “Buscamos promover debates aprofundados e reflexões sobre questões que são não apenas protagonistas no cenário acadêmico e profissional, mas que também impactam diretamente a sociedade”, pontua.
Esses debates, segundo Nair, objetivam disseminar conhecimentos sobre comunicação e ciência. “Pretendemos contribuir para uma compreensão mais ampla e integrada desses campos, enriquecendo o diálogo entre a Fumec e seus públicos.”
Dupla vinculação
Além de estar relacionada aos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Fumec, a revista passa a se associar nesta edição, também, ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Informação e Comunicação e Gestão do Conhecimento da Faculdade de Ciências Empresariais (FACE).
Nair explica qu,e como editora da revista, o objetivo desta edição, “bem como das próximas sob minha responsabilidade, é dar visibilidade e destacar temas centrais e de grande relevância para a área da Comunicação”. Outro objetivo, segundo Nair, tem relação com a dupla vinculação da revista. “Ressaltar a importância da comunicação como uma ponte que conecta e fortalece as duas vinculações institucionais.”
Para a editora da revista, a dupla vinculação amplia a finalidade do periódico. “A revista aumenta suas interfaces, tanto na graduação, quanto na pós-graduação stricto sensu, afirma, relacionando ainda a revista ao contexto dos programas de pós-graduação brasileiros. “O Qualis B3 é um instrumento que auxilia os comitês de avaliação no processo de análise e de qualificação da produção bibliográfica dos professores e alunos dos programas de pós-graduação”, revela Nair.
“Esse sistema classifica as revistas acadêmicas de acordo com a relevância e impacto de seus artigos científicos”, descreve. Nesse sentido, a dupla vinculação beneficia a revista. “Amplia as possibilidades da publicação se qualificar ainda mais, atendendo aos requisitos mais rigorosos das publicações científicas brasileiras.”
O dossiê
O dossiê reúne artigos sobre bullying no ambiente escolar, competências midiáticas, educação com os jovens em cidade de baixo IDH, educação midiática para jovens universitários, inteligência artificial na comunicação, listagem de teses e dissertações sobre o ensino midiático, pensamento crítico e identidades socioculturais, dentre outras temáticas.
De acordo com a editora da revista, os conteúdos do dossiê são importantes para aumento da capacidade de discernimento, da consciência e do engajamento social. “São temáticas que desenvolvem habilidades críticas e midiáticas, fomentam a inclusão e igualdade, preparam indivíduos para um mundo em constante mudança e inspiram mudanças positivas na sociedade”, aponta.
Nair explica que os dossiês geram benefícios ao serem publicados em periódicos científicos, como a Mediação. “Para a revista, as coletâneas de artigos demonstram credibilidade, aumentam a audiência e consolidam sua posição no campo científico.”
As vantagens se estendem, também, aos autores dos artigos e aos leitores da revista. “Para os autores, o dossiê promove aumento da visibilidade, colaboração e feedback. Já os leitores são informados sobre os últimos desenvolvimentos no campo científico”, informa. “A coletânea de artigos possibilita foco temático, organização e avanço do conhecimento, visibilidade e impacto, além de servir como referência para pesquisadores.”
Alfabetização midiática
Segundo Nair, o letramento midiático foi escolhido como temática para o dossiê devido à relevância que possui para a construção de uma sociedade informada e crítica. n“A alfabetização para as mídias capacita os indivíduos a interpretar, analisar e produzir conteúdo de forma consciente”, explicita. “No contexto educacional, essa competência é ainda mais relevante, uma vez que prepara os estudantes para o mundo digital, onde a informação circula de maneira veloz e em diferentes formatos.”
A educação midiática possibilita que os alunos tenham mais ética e responsabilidade ao entrarem em contato com conteúdos da internet. “Permite que eles identifiquem fontes confiáveis, combatam a desinformação e reflitam sobre o impacto da mídia na sociedade.”
Nair acredita que a educação midiática pode gerar a utilização responsável da internet e, dessa forma, aumentar a inclusão e a participação social. “Estudantes são capacitados a exercer seus direitos e deveres como cidadãos digitais, entendendo a importância da privacidade, do respeito às diferenças e da convivência democrática nos espaços virtuais.”, conclui.
Desafios
Total de 67% dos jovens brasileiros não diferencia fatos de opiniões. As informações são do portal G1. Realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a pesquisa traz à tona a discussão sobre a educação midiática: conjunto de habilidades que permite o reconhecimento de fake news e o uso do senso crítico nos ambientes virtual e midiático.
Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que determina quais assuntos serão ensinados aos estudantes brasileiros, a educação midiática é um conteúdo facultativo nas escolas: ou seja, de ensino não obrigatório. O foco principal tem sido formar professores em relação à alfabetização midiática.
Sônia Maria Jaconi é doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e pesquisadora em Educação, conectividade, políticas públicas educacionais e desenvolvimento do território. Nesta edição da Mediação, entrevista Bernadete A. Gatti, titular da Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica da Universidade de São Paulo (USP), sobre os desafios enfrentados pela educação e pela comunicação.
Sônia explica que existem obstáculos para a implementação da alfabetização midiática. “Falta de formação de educadores, desigualdade de acesso à tecnologia, ausência de políticas públicas que promovam a alfabetização midiática nas escolas e comunidades, além de desinteresse ou indiferença de estudantes e professores pelo tema”.
Para a especialista, esses desafios tornam mais difícil a eficiência e abrangência da educação midiática. Para superá-los, ela acredita que a abordagem deve ser ampla e integrada. “É necessário investir na capacitação de professores e educadores sobre alfabetização midiática, incluindo o entendimento de diferentes formatos de mídia, a análise crítica de conteúdos e o uso de ferramentas digitais”, indica.
Com a preparação dos professores, a educação midiática se torna mais efetiva. “Os professores tornam-se fundamentais para construir uma cultura escolar que valoriza o pensamento crítico e a cidadania digital, preparando os estudantes para interagir de maneira responsável e reflexiva com a mídia.”
Outras maneiras de superar os desafios para implantação da educação midiática envolvem conversas no ambiente escolar e acesso a ferramentas. “Devem ser discutidas questões atuais e relevantes relacionadas à mídia”, afirma. “Além disso, é necessário criar condições de acesso a ferramentas e recursos digitais que permitam os estudantes explorar e criar conteúdos midiáticos.”
De acordo com Sônia, o dossiê da Revista Mediação amplia o debate sobre o processo de alfabetização. “Reúne teoria, prática e atualização sobre o tema”, pontua. Para ela, o dossiê oferece apoio, não só para educadores, gestores e famílias, “mas também ajuda a fortalecer o conhecimento e a implementação da alfabetização midiática nas escolas e em outros ambientes educativos”. A pesquisadora observa que assim a alfabetização se torna “mais acessível e contextualizada para diferentes realidades escolares e sociais.”
Segurança digital
Além da alfabetização midiática, a segurança digital também é um tema fundamental abordado no dossiê da Revista Mediação. O conceito busca garantir que todos possam acessar as tecnologias de forma ética. Um levantamento da SurfShark, empresa holandesa de privacidade e segurança digital, revelou que o Brasil está na sexta posição do ranking mundial de países com mais vazamentos de dados.
Em 2021, foram mais de 24 milhões de brasileiros afetados, o que corresponde a mais de 10% da população do país. Navegar por ambientes virtuais deveria, no entanto, significar a garantia de que os usuários não se exponham às falhas dos sistemas e à manipulação midiática, fruto da intenção de pessoas que utilizam dados para objetivos obscuros.
O jornalista e doutor em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Rodrigo Gabrioti afirma que, apesar da existência de legislação, é difícil estarmos seguros de que, nas linguagens binárias dos sistemas, nossas informações pessoais não estejam expostas. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, não chega a fazer distinção de vazamento de dados bancários.
A segurança digital apresenta sistemas de antivírus capazes de alertar a sociedade sobre a violação de dados e ataques virtuais. No entanto, atualmente, há várias possibilidades fakes, que são tão bem feitas, capazes de nos confundir. “Acreditar que estamos seguros digitalmente porque estamos vendo diante de nossos olhos algo que conhecemos, um contato que nos parece familiar, não basta”, alerta Gabrioti.
A importância da educação midiática é enfatizada pelo dossiê da Revista, que visa ao aumento da segurança digital proporcionando informação e conhecimento. Rodrigo destaca que “a reunião de artigos dessa natureza mostra práticas, pesquisas e realidades de várias partes do país para que possamos pensar quais trabalhos estão sendo desenvolvidos, assim como saber da realidade que muitas vezes está longe dos grandes centros.”
O papel da escola na formação de uma sociedade mais crítica e consciente sobre o uso das tecnologias é fundamental. A alfabetização midiática é essencial, pois ensina a lidar com os meios digitais e desenvolver um olhar crítico. No passado, professores utilizavam jornais em sala de aula para discutir o gênero notícia, agora o alcance do digital é muito maior com a presença constante das pessoas na internet.
“A alfabetização prepara para o bom senso e para o olhar mais crítico das pessoas e, assim, elas saberem que, por trás de telas e algoritmos, há toda uma rede que é muito importante e, ao mesmo tempo, perigosa, se dominada por pessoas mal intencionadas. Com o trabalho da alfabetização, é possível, por exemplo, demonstrar às pessoas como não acreditar em tudo que veem nas redes sociais”, ressalta Gabrioti.
“Para superar os desafios que a falta da segurança digital provoca, deve-se investir na educação. É necessário que haja um processo educacional do cidadão”, afirma, lembrando o papel formativo das escolas, “pois crianças e jovens são multiplicadores de informação”, destaca. “Já nas universidades, os projetos de extensão podem ser um caminho para que especialistas orientem e ensinem a sociedade sobre os riscos que corremos nesse âmbito”, conclui Gabrioti.