Educadores enfrentam violência nas escolas
Anna Sophia Buitrago, Clauanny Rodrigues, Isabella Ferreira e Lara Reis
Uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o Brasil está entre os países com os maiores índices de agressão contra professores, posição que se mantém estável nos últimos anos. Segundo o estudo, 12,5% dos professores relataram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana, seguido por Estônia (11%) e Austrália (9,7%).
Entre janeiro e setembro de 2023, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos registrou 9.530 denúncias pelo Disque 100, um aumento de cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram registradas 6,3 mil denúncias. Cada denúncia pode conter inúmeras violações de direitos e os dados de 2023 revelam que mais de 50 mil violações foram recebidas e encaminhadas a órgãos competentes.
De acordo com o Painel de Dados do Disque 100, as denúncias aconteceram em berçários, creches e instituições de ensino, com mais ocorrência nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Desafios
A psicopedagoga e professora da escola pública na cidade mineira de Barão de Cocais, Emiliana Cabral, relata ter sido vítima de agressão verbal no ambiente escolar e destaca os desafios envolvidos. “A agressão gera um impacto emocional na vida do professor, é muito frustrante e desmotivador. A professora também aponta formas de lidar com situações de violência. “Mas o importante é que a gente mantenha a calma, buscando compreender o contexto e buscar soluções que não aumentem o conflito”, destaca a professora.
A professora ainda conta que manter a estabilidade emocional não é simples. “Esse posicionamento que eu tenho hoje foi graças à terapia e muito autoconhecimento, porque não é fácil. Acredito que todos os professores deveriam ter esse direito, para que a gente não trabalhe tão frustrado, aprenda a se regular emocionalmente, então é uma dica que eu deixo para os colegas.´
A psicopedagoga observa uma diminuição dos casos de violência na escola em que trabalha, porém, agressões como bullying ainda acontecem. “Atualmente, estou tranquila em relação a isso. Alguns anos atrás era bem diferente. Eu não tenho casos atuais de agressão verbal comigo, no momento. Mas vejo que acontece, sim, com alguns colegas de profissão”.
A escola, segundo a professora, busca identificar problemas cedo, adotando ações preventivas e interventivas para reduzir esses comportamentos. Ela observa: “Os alunos vêm com uma intolerância e imediatismo muito grande, querendo que as coisas sejam resolvidas rapidamente, do jeito que cada um quer que seja. É muito difícil, no coletivo, a gente conseguir solucionar o problema pessoal de cada um”.
Professora de uma escola particular em Belo Horizonte, Lucy Bastos conta que casos de violência verbal são constantes entre adolescentes e pré-adolescentes. “Eu não me assusto com as cenas de agressividade de aluno, isso é natural. Precisamos saber agir com maturidade emocional para contornar essa agressividade, mostrando ao aluno que aquilo não foi legal e não pode se repetir”, explica.
A instituição tem adotado medidas, como, no mês de outubro, quando os alunos do ensino fundamental e médio receberam visita de um delegado de polícia e de uma advogada para “conversar sobre violência, agressão, bullying e cyberbullying”. Nos casos de agressão comprovada, a escola convoca a família do aluno. “Se a agressão for física, o aluno fica suspenso da aula até os pais comparecerem à escola e assinarem um termo de compromisso”, acrescenta a professora.
Ela comenta sobre a necessária ação da escola diante dos impactos no ambiente escolar. “Essas situações de violência geram desconforto tanto nos professores, quanto na turma, porque os alunos que não são habituados a cenas de agressividade ficam muito impactados. Por isso, agimos rapidamente para impedir que essa coisa toda cresça.”
Mudança
Pais e professores questionam as causas das agressões escolares. A psicóloga Letícia Pereira destaca que o comportamento violento é uma resposta aprendida. “O aluno não sente uma vontade de fazer a violência, mas sim emite esse comportamento em função das consequências que ele tem aprendido a obter com essas ações. Então isso pode ser reforçado por ganhos imediatos, como a atenção de outros”, analisa a psicóloga.
Segundo a psicóloga, um histórico de reforçadores e punição pode influenciar esse tipo de comportamento. “Geralmente, a pessoa que pratica bullying é porque sofre com problemas internos e não sabe lidar com eles. Então, ela vai depositando na outra pessoa. É a forma dela se sentir bem, sabe?”.
Ela observa ainda que os pais ou responsáveis exercem forte influência no comportamento dos alunos. “Se os pais reforçam, direta ou indiretamente, comportamentos agressivos, seja por meio de violência física ou verbal, dentro de casa, essas respostas podem se manter e generalizar outros contextos, como a escola”, explica a profissional.
A psicóloga sugere formas de prevenir e diminuir os comportamentos agressivos. “É importante que a escola adote um sistema claro de consequências que seja aplicado de forma consistente. Comportamentos violentos devem ser seguidos de consequências que desestimulem a repetição, como a perda de privilégios ou a necessidade de reparação do dano”, orienta.
Segundo ela, os professores podem atuar como agentes de mudança, reforçando positivamente comportamentos de respeito e cooperação em sala de aula. “Programas de manejo, comportamental e a participação de equipes multidisciplinares são muito importantes. Psicólogos ou educadores também são essenciais para modificar e promover o ambiente”, conclui.