Inclusão: agência criada por estudantes divulga trabalho do Cerai
Por Iasmim Ferreira, Júlia Costa, Safira Aimê e Yana Zebian
A presença na sala de aula do profissional do Centro de Referência em Acolhimento e Inclusão (Cerai) da Universidade Fumec chama a atenção para o trabalho do setor e motiva a participação dos estudantes no processo de inclusão social.
Exemplo disso é o desenvolvimento, durante o segundo semestre deste ano, de ação de extensão dos alunos do segundo período do curso de Comunicação Social que criaram a empresa experimental Lupa Comunicação e Inclusão.
O Cerai acompanha, desde 2010, estudantes portadores de deficiência e neurodivergentes em sala de aula, realiza atendimento psicopedagógico e apoia os professores na execução das matérias, de forma a promover a diversidade e inclusão social.
Acessibilidade
A intérprete educacional e acompanhante pedagógica do Cerai, Jussara Medeiros do Santos, que trabalha há 12 anos com processos pedagógicos de inclusão social, afirma que palestra realizada este semestre pelo Cerai aproximou alunos e professores, com o aumento e tipos de demanda dirigida ao setor.
“Lidar com alunos, cada um com sua especificidade, saber comunicar de maneira assertiva, aplicar técnicas e recursos”, relata Jussara sobre a importância crescente do Cerai na Fumec.
Acolhimento
A Lupa Comunicação e Inclusão produz e divulga conteúdos diversos nas redes sociais, na perspectiva da experiência e com a participação dos alunos portadores de deficiência e neurodivergentes,
A estudante de Comunicação Social da Fumec, Gabriela Carmo (19), integrante da Lupa, explica que o projeto foi criado para “dar voz às pessoas que normalmente não são ouvidas”.
O aluno do curso de jornalismo, Guilherme Fontes, com síndrome de down, integra a agência e entrevistou a colega Safira Aimê durante o projeto. “É um prazer ver como ele já se sente mais livre dentro do nosso grupo. Muito bom poder mostrar para todas as pessoas o jornalista extraordinário que sabemos que o Guilherme tem potencial para se tornar”, afirma Gabriela.
O projeto de extensão também teve impacto significativo, para Guilherme, que se sente mais confiante e inspirado após sua participação. “Foi ótimo! Perdi um pouco da timidez e também vi que posso ajudar outras pessoas que, como eu, podem não se sentir com o direito de fazer uma faculdade ou realizar um sonho.”
Simone Santos: “Inclusão é o futuro da educação”
A inclusão de neurodivergentes na educação, especialmente no ambiente universitário,
tem se tornado um tema central nas discussões sobre acessibilidade e equidade. Compreender e acolher a diversidade neurológica vai além de oferecer suporte acadêmico, envolve criar espaços onde as diferenças sejam respeitadas e valorizadas, permitindo que alunos atípicos possam expressar todo o seu potencial. Apesar de avanços, ainda existem desafios significativos, como a adaptação curricular e a
sensibilização de professores e colegas para construir uma cultura realmente inclusiva.
Psicopedagoga com mais de 15 anos de atuação, Simone de Souza Santos desenvolve trabalho voltado para intervenções psicopedagógicas e formação de alunos, com especial atenção à inclusão de neurodivergentes. Ela discute a seguir a importância de práticas pedagógicas que reconheçam e atendam às necessidades dos neurodivergentes, enfatizando como a psicopedagogia desempenha um papel crucial nesse processo.”Com um bom acompanhamento, eles conseguem se desenvolver e se tornar tão capacitados quanto qualquer outro profissional”, afirma a psicopedagoga, em entrevista à agência Lupa Comunicação e Inclusão.
Lupa: Como você definiria o papel de uma psicopedagoga no contexto acadêmico, especialmente no acompanhamento de alunos neurodivergentes?
Simone Santos: É fundamental a importância e o apoio do profissional capacitado para o suporte ou desenvolvimento da aprendizagem da pessoa neurodivergente. O profissional psicopedagogo atua diretamente no acompanhamento, formação e suporte desse aluno.
Lupa: Quais são os principais desafios que os alunos neurodivergentes enfrentam no ambiente acadêmico, e como a psicopedagogia pode ajudar a superá-los?
S.S: Um dos principais desafios é a inclusão, sentir-se parte integrante do meio social e ter a capacidade de acompanhar o desenvolvimento. O psicopedagogo tem as ferramentas adequadas para ajudar a superar as limitações, tanto no que diz respeito a socialização quanto no que diz respeito a intervenções psicopedagógicas.
Lupa: Na sua experiência, como o diagnóstico psicopedagogo pode influenciar as estratégias de inclusão nas universidades?
S.S: A partir do momento em que se tem clareza do diagnóstico, fica mais fácil direcionar o acompanhamento para o atendimento das suas especificidades. Por exemplo, o aluno com TDAH vai ter um atendimento, o aluno com hiperatividade terá outro tipo de atendimento e o profissional tem as ferramentas para ajudá-los.
“É fundamental contar com profissionais capacitados para promover intervenções corretas, utilizando técnicas e materiais didáticos específicos”
Lupa: Quais adaptações você considera essenciais para garantir a inclusão de alunos com diferentes perfis de aprendizagem?
S.S: Em primeiro lugar, é necessário verificar se o ambiente de aprendizagem é apropriado e adaptado, de modo que o aluno consiga realizar suas atividades de forma tranquila. O espaço deve ser limpo, arejado e equipado com materiais adequados para os alunos neurodivergentes. Além disso, é fundamental contar com profissionais capacitados para promover as intervenções corretas, utilizando técnicas e materiais didáticos específicos.
Lupa: Como as universidades podem colaborar de maneira eficaz com os psicopedagogos e outros profissionais da área para promover um ambiente de aprendizagem inclusivo?
S.S: A partir de realizações de eventos que promovam a reflexão, a educação e a divulgação voltadas para a inclusão e, principalmente construindo um ambiente de conscientização, atingindo a sociedade como um todo.
Lupa: Você poderia compartilhar algum caso ou exemplo em que a intervenção psicopedagógica fez uma diferença significativa na vida de um estudante?
S.S: São vários exemplos, não há um em específico, pois são alunos que acompanho ao longo dos anos. O que percebo é que, com um bom acompanhamento, eles conseguem se desenvolver e se tornar tão capacitados quanto qualquer outro profissional. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito e as intervenções corretas forem aplicadas, maior será a chance de o aluno se desenvolver no nicho que ele escolher, tornando-se um profissional qualificado.
Lupa: O que você acredita que ainda falta ser feito nas políticas educacionais para garantir uma verdadeira inclusão de alunos neurodivergentes?
S.S: A questão da socialização como um todo, trazendo a sociedade para o meio acadêmico. Também proporcionar para esse aluno neurodivergente um ambiente adequado, para que ele possa se desenvolver em todas as suas potencialidades.
“Se a família for bem orientada, ela consegue dar esse suporte para o aluno, desenvolvendo tarefas e noções básicas, como, por exemplo, uma rotina apropriada”
Lupa: O diagnóstico descoberto mais cedo faz diferença no desenvolvimento dos alunos neurodivergentes em comparação com um diagnóstico recebido na fase adulta?
S.S: Sim, faz diferença porque uma vez descoberto até os 12 anos, o acompanhamento é feito de uma forma mais pontual, fazendo com que esse aluno descubra o que é necessário e importante ser trabalhado. Uma vez que ele já ficou adulto, é mais complicado trabalhar essas questões, o desenvolvimento não é tão amplo da forma que se espera como acontece na infância.
Lupa: Qual a importância do papel familiar no desempenho e desenvolvimento desses alunos neurodivergentes?
S.S: A família exerce um papel fundamental, uma vez que é a partir da mesma que ele tem todo um apoio. Se a família for bem orientada, ela consegue dar esse suporte para o aluno, desenvolvendo tarefas e noções básicas, como, por exemplo, uma rotina apropriada para que o aluno seja capaz de lidar com essa neurodivergência.
Lupa: Você acredita que o acompanhamento psicopedagógico deve ser contínuo durante a vida acadêmica ou pode ser algo pontual?
S.S: Uma vez que o diagnóstico é identificado desde a idade tenra, o aluno consegue se autorregular, não é necessário um acompanhamento durante toda a vida, porém, em alguns momentos pontuais ele vai querer à ajuda profissional. No entanto, se já tiver recebido acompanhamento ao longo da vida, será mais fácil para ele se autorregular, disciplinar-se e trabalhar por conta própria as questões que surgirem.
“A tecnologia contribui na pesquisa e com recursos pedagógicos
que estimulam o cérebro a trabalhar de forma integrada“
Lupa: Qual a importância de um diagnóstico correto e como ele influencia as estratégias de intervenção e o sucesso dos alunos no ambiente escolar e universitário?
S.S: Uma vez que o diagnóstico é claro, o aluno deve ser acompanhado pelos profissionais adequados. Não se trata apenas do acompanhamento psicopedagógico, ele também precisa do apoio dos professores, familiares e deve passar por consultas com neurologista e clínico. Às vezes, é necessária a intervenção de um psicólogo. É todo um processo. Com esse acompanhamento feito de forma correta, o aluno se desenvolve ao longo do tempo e alcança sucesso na vida acadêmica.
Lupa: De que forma a tecnologia e as inovações na psicopedagogia podem auxiliar na inclusão e desenvolvimento de alunos neurodivergentes?
S.S: A tecnologia veio para nos ajudar, permitindo que o aluno tenha acesso ao conhecimento por conta própria, já que a mesma oferece uma ampla gama de informações. A tecnologia tem contribuído significativamente, tanto em termos de pesquisa quanto no desenvolvimento de ferramentas para trabalhar com esses alunos. Além disso, ela nos auxilia com recursos pedagógicos, como jogos e atividades interativas, que estimulam o cérebro a trabalhar de forma integrada.
Lupa: Quais orientações você daria para professores de escolas e faculdades que lidam com alunos neurodivergentes?
S.S: Algumas dicas e possibilidades para ajudar no trabalho com neurodivergentes incluem o estabelecimento de rotinas claras, para que o aluno consiga se desenvolver ao longo de sua atividade de aprendizagem. Também é importante fazer combinados e usar lembretes, além de utilizar recursos pedagógicos como jogos (quebra-cabeça, memória). Para trabalhar a socialização em grupo, pode-se criar um “cantinho da raiva”, onde o aluno pode ser direcionado caso fique muito agitado, escolhendo uma atividade que o acalme. Essas são sugestões que ajudam a lidar com esses alunos em sala de aula. No caso das famílias, organizar um quadro de rotinas, onde o indivíduo possa visualizar previamente o que terá que fazer no dia, é uma boa estratégia.