Assassinos da Lua das Flores: uma história sobre petróleo, sangue e conspiração

Por Miguel Lobato

Foto: Divulgação

No dia 19 de outubro, chegou aos cinemas do Brasil o novo filme do consagrado diretor Martin Scorsese: “Assassinos da Lua das Flores” (Killers Of The Flower Moon).

Baseado no livro de mesmo nome, “Assassinos da Lua das Flores” conta a história real de uma nação indígina estadunidense – os Osages – que surpreendentemente encontra uma gigantesca jazida de petróleo no pequeno território de sua reserva, no estado de Oklahoma; território esse que o governo americano acreditava ser inútil e improdutivo. Essa surpresa acaba por transformar os Osages numa das
comunidades mais ricas do mundo em meados da década de 1920, mas também atrai muitas pessoas gananciosas e mal-intencionadas.

A narrativa acompanha Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio), um homem simples que, após servir na Primeira Guerra Mundial, volta aos Estados Unidos para trabalhar com seu tio, o pecuarista William King Hale (Robert De Niro), que tem uma fazenda dentro da Nação Osage e ocupa uma posição de respeito entre os moradores, tanto brancos quanto originários. Trabalhando como motorista, Ernest conhece Molly (Lily Gladstone), integrante de uma das famílias Osage, e os dois desenvolvem um romance. Porém uma série de mortes misteriosas entre os membros da rica nação originária dá indícios de um lento e discreto massacre étinico.

O filme é um épico de 3 horas e 26 minutos de duração com muitas complexidades e informações, mas isso não faz dele cansativo ou desinteressante. Por mérito principalmente da direção experiente, mas vigorosa de Scorsese, e da edição/montagem excepcional de Thelma Schoonmaker, que orquestra um ritmo sublime do início ao fim, “Assassinos da Lua das Flores” se destaca como um dos trabalhos mais interessantes de seu diretor.

As atuações são incríveis, desde os três personagens principais até os mais comedidos e com menos tempo em tela. A história é forte e chocante, e Scorsese conseguiu encontrar um foco narrativo muito bom, distanciando do formato investigativo do livro e trilhando um caminho mais dramático.

O autor da obra original, o jornalista David Grann, passou uma década pesquisando e colhendo informações sobre os assassinatos do povo Osage. Foi um crime real e revoltante na história estadunidense, mas que até então estava bastante esquecido. Assim, o livro acabou naturalmente seguindo uma linha mais investigativa, onde os “personagens” principais são os detetives e agentes do Bureau Of Investigation, que mais tarde seria conhecido como FBI. Mas ao analisar a história como um todo, Scorsese percebeu que havia a possibilidade dessa história se tornar um filme de drama ao acompanhar as tramas de algumas pessoas que estavam envolvidas diretamente no acontecimento, proporcionando uma série de conflitos de enredo muito interessantes.

O roteiro, que antes seguia o formato do livro, foi alterado, e o resultado foi excelente, uma prova de que Martin Scorsese não é um diretor que simplesmente transforma roteiros em cenas, mas sim um diretor autor de primeira categoria.

Em suma, “Assassinos da Lua das Flores” é um filme muito importante. Um retrato da monstruosidade que reside na ganância humana e da nocividade que permeia o preconceito e a indiferença; é a evidência de um crime imensuravelmente hediondo e uma enérgica mensagem de justiça.

O longa-metragem foi lançado no cinema e tem previsão de chegar ao catálogo da Apple TV+ em dezembro, segundo o padrão de grande parte dos lançamentos, que levam cerca de 45 ou 50 dias para a estreia digital.