Rita Lee: uma celebração à vida e ao Rock’n’Roll

Por Larissa Figueiredo

Rita Lee morre aos 75 anos

Não tem graça viver sem Rita. Ver um dos maiores ícones brasileiros partir em meio a uma crise generalizada e desesperadora da falta de ídolos deixa uma sensação de vazio, mas mulheres como Rita Lee estão cravadas na história contemporânea e nunca partem.

Para cada um de nós, Rita Lee Jones de Carvalho deixa um legado. Em homenagem, a turma do 5º período de Jornalismo da Universidade Fumec deixa seu tributo por meio das contribuições e impacto da rainha, mas não monarca, do rock brasileiro em nossas vidas. E quem disse que só as celebridades têm o que falar sobre Rita?

Pioneira na música 

Para Arthur Mesquita, “Rita ajudou a transformar a música brasileira com sua ousadia e essa é a palavra perfeita para descrever Rita Lee: Ousadia. Rita sempre gostou de incomodar, de causar e nunca escondeu quem era. Rita Lee era o rock em pessoa.”

Ela foi capaz de impactar o mundo todo com sua potência de rockstar, mas também entrava nos lares brasileiros como uma amiga íntima. “Quando eu era mais novo, lembro de ver meus pais cantando e dançando várias músicas da Rita Lee…Sempre que tocava uma música dela, lembro-me de meus pais se
divertindo e dançando”, afirma Kailan Nunes. 

Para Laura Mariano, não foi necessário pesquisar quem era Rita Lee: “Nunca precisei dar play em alguma música dela, tendo em vista que uma vez ou outra minha mãe escutava suas canções em um rádio pela casa, ou quando assistia familiares cantarem em festas ‘Lança Perfume’ nas alturas.”

O que explica o grande sucesso das novelas no Brasil é a identificação do público com as tramas, muitas delas embaladas ao som de Rita Lee. “Algo que me marcou bastante foi quando assisti a reprise da novela Mulheres de Areia e uma das músicas da trilha sonora era Ovelha Negra”, afirma Ana Luiza Adolfo.
E completa: “Na novela, a música era tema da personagem Malu, interpretada por Vivianne Pasmanter, que era uma mulher rebelde, queria contrariar os padrões e ser dona do próprio nariz. E foi exatamente essa a visão que eu criei de Rita Lee, a mulher que queria contrariar os padrões. Errada? Não! Necessária.”

Falando em Ovelha Negra…

Em seu último show em 2012, Rita Lee foi presa após confrontar policiais que
estavam fazendo uma operação na plateia.  Segundo Ricardo Soares, que passou a admirar a roqueira por sua postura política neste episódio, a Polícia Militar, que é um instrumento de opressão e que se torna ainda mais maléfica quando confrontada, teve que ouvir da artista nacionalmente conhecida as seguintes expressões: “cachorros ” e “f.d.p”. “A repressão das polícias militares contra minorias é algo constante no Brasil, a sensação de uma ‘instituição intocável’ não passou impune aos olhos de Rita Lee que foi detida, mas não se acovardou”, ressalta o estudante. 

Amor & Sexo & Luta

Tanto politicamente quanto culturalmente, é inegável sua importância; afinal, uma mulher ter sido um dos principais destaques na década de 70, a era de ouro do rock, em tempos em que o machismo era escancarado, representa muita coisa. 

“Na minha opinião, durante seus 39 anos de carreira, seu álbum mais impactante foi ‘’Fruto Proibido’’. Álbum que contém o sucesso ‘’Ovelha Negra’’. Para mim, não tem nenhum significado fora do padrão, mas é uma música que muitas pessoas se identificam com a letra”, afirma Vitor Rodrigues. 

Para Maria Eduarda dos Santos, “a revolucionária Rita Lee fez arte, por amor e com amor, nos ensinou a quebrar padrões, a entender que nós mulheres temos espaço para ser quem quisermos e onde quisermos.”

Já para Samuel Fernandes, “Lee é tratada por muitos pela pessoa que viveu, não só viveu de passar na terra, mas sim de viver o que a vida tem a oferecer. Experimentou de tudo e deixou um legado de liberdade de ser o que você quiser sem barreiras.” 

Henrique Gil conta que ouvir Rita Lee é recordar da força e resistência de sua própria mãe. “Para muitas mulheres, como minha mãe, era referência do que significava ser livre e viver como queria. Lembro até hoje das diversas vezes que, quando eu ainda era criança, minha mãe cantou e, em alguns momentos,
até chorou entoando um clássico de Rita Lee, Ovelha Negra. Dizia que era a música que a representava, uma vez que sempre foi a pessoa que pensava diferente da família, que questionava e se posicionava. Para ela, a ovelha negra era na verdade livre. E acredito que para a Rita também.”


Rita Lee é a chama viva e irreverente de um passado difícil. “Eu nasci em 2002, um ano antes do lançamento da música Amor e Sexo. Aos 21 anos, para mim, falar sobre sexo é tão comum que beira a banalidade. Em 1972, quando Rita deixou Os Mutantes e seguiu carreira solo, as mulheres lutavam para ter acesso aos métodos contraceptivos e à liberdade sexual. “Amor e Sexo” é quando Rita usa a música para fazer o que sabia fazer de melhor: lutar por um mundo diferente. É quando uma mulher fala mais de 20 vezes em cerca de dois minutos a palavra proibida”, afirma Larissa Figueiredo.

Para Ana Luisa Fonseca, ela inspirou várias mulheres a normalizarem seus desejos sexuais, além de se aceitarem sem ter que seguir o padrão de moça de família “recatada e do lar”, imposto pela sociedade tradicional. 

Para Yasmin Mello, Rita Lee está até em sua cor preferida: “A presença do vermelho na minha vida vem muito da Rita, minha personalidade vem muito da Rita. Ídolo da minha mãe, ídolo de todo um país, sendo definitivamente uma das maiores pessoas que já pisaram nele. Rita Lee era quem era, tinha o talento que tinha, e era amada e odiada por isso. Símbolo de várias lutas, sinônimos de tantas causas, Rita Lee foi uma luz em uma época que o país necessitava desse brilho.” Luz essa que não se apaga agora, e vai continuar a ser passada de geração para geração.

Ainda segundo Yasmim, Rita Lee teve a honra de descansar como poucos artistas do Rock’n’Roll conseguiram, aos 75 anos, já aposentada, cercada de seus filhos, netos e seu grande amor Roberto de Carvalho. A rainha do rock se manterá viva em todas as suas obras e em toda ovelha negra que se sente
acolhida por suas palavras. “Me dando a liberdade de corrigir suas próprias palavras: Era sim um bom exemplo, bem além de uma pessoa só gente boa.”