Violência nas escolas chama atenção para cultura da paz

Por Maria Victória Moreira

Ações pela cultura de paz em Paraisópolis / Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Um estudante de 13 anos assassinou uma professora e feriu outras três pessoas na manhã do dia 27 de março, na Escola Estadual Thomazia Montoro, Zona Oeste de São Paulo. No início de abril, outros dois crimes capturaram a atenção e preocupação das autoridades e da população. No dia 5 de abril, um homem, portando uma machadinha, invadiu uma creche em Blumenau (Santa Catarina) e cometeu homicídio contra quatro crianças. Menos de uma semana depois, um adolescente de 13 anos esfaqueou três estudantes em Santa Tereza de Goiás (GO).

Nas redes sociais, a idolatria por massacres e homicidas mostra-se crescente entre fóruns extremistas. Até mesmo em camadas mais “superficiais”, como nas redes sociais TikTok e Twitter, pode-se encontrar perfis que compactuam com a violência e vídeos que exaltam os criminosos. Além disso, ameaças de possíveis atentados são disseminadas na web. Os usuários responsáveis pelas publicações se apropriam de imagens ou vídeos virais para “divulgar” datas e locais onde criminosos irão agir. Uma das datas mais recorrentes é o dia 20 de abril.

No dia 20 de abril de 1999, Eric Harris e Dylan Klebold assassinaram 12 alunos e feriram mais de 20 pessoas em ataque à Columbine High School. Durante a investigação, foram encontrados vídeos e materiais postados na web que provavam que a dupla planejou o crime com antecedência. Harris e Klebold cometeram suicídio no dia do atentado.

A data marca também o aniversário de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista. Em coletiva no dia 12 de abril, o ministro da Justiça Flávio Dino relacionou a data e os acontecimentos. Dino citou também o caso do adolescente de 14 anos apreendido por suspeita de planejar um ataque em escola no Rio Grande do Sul. O jovem portava material de apologia ao nazismo.

Em razão dos crimes e ameaças, o vereador Adriano La Torre (PDT) entrou com um requerimento que solicita o decreto de ponto facultativo no dia 20 de abril. Apesar da rejeição do decreto, nenhuma ocorrência foi registrada no dia 20.

Foto: Portal Palhoça

Em entrevista ao Conecta, a psicóloga e professora da Universidade Fumec, Maria do Carmo Sousa, analisa a recorrência dos ataques. “É importante percebermos que não se trata de um evento isolado e, portanto, não podemos responder de forma isolada, embora seja uma tendência do nosso tempo que está produzindo sujeitos mais individualistas e que buscam respostas rápidas e estanques para situações diversas. Não podemos dar ênfase apenas ao bullying ou episódios que envolvem a saúde mental dos agressores. Precisamos voltar o nosso olhar para o contexto e lembrarmos que os sujeitos são históricos e inseridos no tempo histórico, econômico e político que impacta suas subjetividades e que elas são expressas, objetivadas neste tempo.”

A professora pontua que elementos internos e externos ao ambiente escolar precisam ser levados em consideração. “Os estudantes e todos presentes na escola são mediados pelo conjunto de relações ali existentes (desde o conteúdo escolar até a recreação). A gama de afetos que percorre a escola media e contribui para os processos de subjetivação dos estudantes. Então ali temos elementos internos, relacionados a essa trama escolar: bullying, brigas, lindas manifestações pela paz, diálogos e intransigências”.

Para a psicóloga, a escola pode e deve trabalhar e compreender que impacta as vivências dos estudantes e entorno. “Mas existem elementos externos: família, mídia, redes sociais, vizinhança, política, dentre outros. Tais elementos também são mediadores na subjetividade dos mesmos estudantes. A responsabilidade não pode ficar apenas na escola. É preciso dividir, responsabilizar e trabalhar com todos os mediadores.”

Ela destaca que as redes sociais estão presentes na sociabilidade dos estudantes. Discursos de ódio devem ser monitorados e também grupos com apologia ao neo-nazismo, por meio de ações governamentais. A professora pontua que as escolas são o centro para a convivência de contraditórios, onde se constrói a sociabilidade por meio de diálogos e, com os ataques, a centralidade das escolas vem se perdendo.

Para assegurar a segurança dos alunos, medidas podem ser tomadas em cenários diferentes. Nas escolas, câmeras, botões de pânico podem ser elementos auxiliares e rodas de conversas promovendo o respeito e a gentileza também podem ajudar. “A presença de psicólogos e assistentes sociais contribui imensamente para a efetivação dos planos de convivência e centralidade da escola”. No ambiente familiar, o diálogo é a peça chave para o acolhimento dos adolescentes, completa.

Em entrevista à rádio CBN, o doutor em linguística pela USP e CEO do Programa Semente, Eduardo Calbucci, afirma que é necessário, frente aos ataques, “criar ambiente em que falar sobre as próprias emoções é normal, quanto mais validar sentimentos, mais chances de criar ambientes harmônicos, e quanto mais harmônico, menos violento e agressivo.” O desafio é “dimensionar o que está acontecendo, mas principalmente compreender que as ameaças são feitas para espalhar o pânico, não pode se render ao descontrole emocional”, defende o especialista.